Para a deputada Catarina Martins, sem democracia cultural não há democracia. “Quando não conhecemos a nossa memória, quando não temos capacidade de nos juntar a pensar no nosso presente, depois temos menos instrumentos para fazer escolhas e essa tem sido uma aposta dos sucessivos Governos, retirar à população portuguesa a capacidade de se conhecer e a capacidade de se projetar no futuro”, afirma.
Em entrevista ao JPN, a coordenadora do Bloco de Esquerda exemplifica com o episódio de despejo da companhia Seiva Trupe do Teatro Campo Alegre: “É obsceno. O que aconteceu é verdadeiramente obsceno. Rui Rio esteve em luta com a Cultura durante todo o tempo. E essa decisão é uma decisão violenta, injustificável e inaceitável”, refere.
Na verdade, em relação à Cultura, área em que Catarina Martins tem algo mais a dizer, visto que também é atriz e co-fundadora da companhia de teatro Visões Úteis, a deputada questiona mesmo se os sucessivos cortes que a pasta tem sofrido nos orçamentos são legítimos: “A pergunta que nós temos de fazer é se temos esse direito, nós que recebemos a poesia do Fernando Pessoa, nós que recebemos o Mosteiro da Batalha, nós que recebemos tudo aquilo que de bem se faz, as referências culturais da nossa identidade, daquilo que somos…”.
Atriz e deputada
Sobre o facto de também ser atriz e, ao mesmo tempo, deputada, Catarina Martins confessa que, nalgumas questões, isso é benéfico: “A única coisa que eventualmente poderá ser verdade é que se espera que a articulação das palavras seja mais percetível ou o facto de, tendo em conta que já nos confrontámos muitas vezes com a nossa própria imagem, isso nos possa dar mais algum conforto com a exposição inevitável, mas não vejo mais ligação do que essa”, explica.
“Sou uma otimista”
Questionada sobre o nome que poderia ter uma peça baseada no cenário político atual, Catarina Martins acha graça e lembra o que a Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE) fez: “Eu julgo que se chamava ‘A Revolução Dos Que Não Sabem Dizer Nós’, ou algo do género… É um título que se aplica muito bem ao momento que estamos a viver”. Momento esse que, para a deputada, é de “um ataque forte de uma direita que aposta tudo no individualismo, na competitividade, que quer destruir aquilo que é a solidariedade em que se constroem os instrumentos da igualdade de que se faz a democracia”, descreve.
Mas, apesar do cenário que envolve o país, Catarina Martins considera-se uma otimista. “Eu sou otimista, porque olho com realismo para as nuvens escuras e para o momento tremendo que estamos a viver. Na verdade, o que me interessa é analisar o momento em que estamos a viver, quais são as possibilidades que temos de reverter, de criar novas condições de desenvolvimento do futuro e de luta contra essas trevas e, nesse sentido, sou otimista”, afirma.