No primeiro verão que passou no Porto, Iris Rangil abriu bem os olhos, seguindo o conselho apreendido durante uma conferência de empreendedorismo. Passeava pela Foz, via os turistas na praia, via casais a fazer mil e um malabarismos com a câmara fotográfica para se conseguirem enquadrar na paisagem, via muitos “selfies” e pouca viagem (“Uma pena. Só se vê uma ou duas cabeças e nem se percebe onde estão.”) Observou muito, olhou para as oportunidades. Então, teve uma ideia.

O projeto Hero & Creatives nasceu nesses meses soalheiros, entre a conclusão do curso de Design de Comunicação e o início do estágio no estúdio TPWD, hoje Surreal. Trata-se de uma plataforma online que serve de ponto de encontro entre fotógrafos e turistas: quem viaja, contrata um fotógrafo local que, durante umas horas, serve de guia turístico e retrata a viagem. No final, o viajante ganha um álbum, uma “lembrança única” daqueles momentos; o fotógrafo, por seu turno, é pago pelo seu trabalho.

Para ambos, a “filosofia acaba por ser mais sentimental”. “O ‘hero’ é um herói, é imortal; a fotografia imortaliza os momentos de uma forma que mais nada pode fazer. Queremos que não seja só um contrato, mas sim uma experiência entre viajantes e fotógrafos.” O fotógrafo, que também é guia, tem de ser “sociável” e terá um vídeo de apresentação no site. Um local pode ter vários criativos e um criativo pode fazer vários roteiros. O turista só tem de escolher, num serviço que terá um funcionamento semelhante ao do Booking.

Viajar como um herói

Natural de Sória, Espanha, “onde nasce o Douro”, Iris apaixonou-se pela cidade onde o rio se encontra com o Atlântico quando chegou à ESAD como estudante de Erasmus. “Surpreendi-me muito com as pessoas. São menos materialistas, mais humildes”, conta, em entrevista ao P3. As viagens correm-lhe no sangue, graças aos irmãos mais velhos, que trabalham em organizações humanitárias. A irmã está hoje em Marrocos, o irmão na Serra Leoa. Talvez por isso Iris tenha decidido pôr os turistas a “viajar como heróis” – e já a partir de finais de março, inícios de abril, quando a versão beta do site for oficialmente lançada.

Para já, a plataforma está a meio gás (a equipa da Surreal está a finalizar a programação), mas já é possível ter uma ideia do que é isto de ser um herói viajante, nomeadamente com as experiências já publicadas no blogue: Sandro foi a Chicago e foi fotografado por Matt, Diana viajou até Budapeste e foi guiada por Adam. O “feedback” tem sido bom, quer por parte dos viajantes, quer por parte dos fotógrafos. Para já estão inscritos 150 em todo o mundo, muitos que Iris desafiou, outros que a desafiaram. O preço do serviço será fixo por local, variando entre os 150 e os 300 euros. Pressupõe um “tour” de quatro horas e um álbum, no mínimo, com 60 imagens. Este montante estará “congelado” até o fotógrafo fazer o “upload” das imagens; o Hero & Creatives fica com uma comissão, e uma pequena percentagem corresponde às taxas de pagamento online.

“Toda a gente gosta de partilhar e não havia nada assim na net”, diz a designer de 23 anos. Uma “coisa simples”, mas uma “boa ideia”, que já valeu dois prémios de empreendedorismo em Espanha e o interesse de um privado que nela investiu 15 mil euros, valor que cobre as despesas da programação. Iris procura agora o restante financiamento para finalizar o projeto. Não esconde a ambição de conseguir viver dele e espera atrair grandes anunciantes. Para já, “paga a vida” a fazer fotografia. Com a empresa A La Virulé, fotografa e filma casamentos em Portugal e Espanha e faz trabalhos de design de comunicação. “As expectativas são muito grandes, mas tenho de ter os pés na terra.” Mesmo que a viagem seja de avião.

Hero & Creatives. Official presentation. from Hero & Creatives on Vimeo.