De acordo com a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), em média, as mulheres continuam a receber menos 18% que os homens. Nas grandes empresas, a disparidade é também evidente, já que nas empresas do PSI20 apenas 6% de mulheres ocupam lugares nos conselhos de administração, um número bastante inferior ao da média europeia (13,7%).

O mesmo acontece noutras grandes empresas nacionais cotadas em bolsa, onde a percentagem de mulheres em cargos de direção não executiva é 5,4% e 7,6% em cargos de direcção executiva. Para combater as desigualdades salariais, o Governo garantiu privilégios no acesso a fundos comunitários às empresas que apostem na paridade.

Ana Cansado, membro da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), considera que a atribuição de benefícios é uma boa iniciativa, mas os critérios precisam de ser revistos: “É preciso garantir códigos de conduta nas empresas que permitam mais segurança em questões como o assédio sexual e outras que neste momento não são contempladas nos critérios dos prémios a atribuir”. Para Ana, a discriminação é óbvia: “As mulheres ocupam lugares hierárquicos mais inferiores nas empresas, não estão representadas nas direções e mesmo normalmente em tarefas iguais existe uma discriminação salarial”.

A “falta de informação” é o maior problema

Os setores em que se nota maior disparidade são o primário e o secundário. No dia da Igualdade Salarial, Manuel Pereira Gomes, da UGT, afirma que a “falta de informação” é o maior problema. No entanto, “o mesmo não se passa no setor dos serviços, em que toda a gente tem acesso aos meios de informação mais rápidos, e por conseguinte há uma maior atualização de informação”, diz.

De acordo com Ana Cansado, a raiz do problema vem do passado: “Temos uma sociedade algo envelhecida e com valores conservadores e estamos apenas a comemorar este ano 40 anos de liberdade”. Para além disso, as diferenças também vêm da tradição familiar portuguesa, que ainda atribui muita “responsabilidade a nível doméstico” à mulher. “Nós somos totalmente contra esta visão porque a partilha dos tempos em casa devia ser feita de modo a que as mulheres conseguissem exercer igualmente cargos de chefia e de direção”, diz.

Um dos maiores problemas é a mentalidade do empresário português, que “não está sensibilizado para estes problemas”, acrescenta Manuel Pereira Gomes. “Há um atraso na maneira de encarar a igualdade em Portugal”, conclui Ana Cansado.