“São números assustadores, mas são números que não nos surpreendem”, diz ao JPN Ana Castro Sousa, da Associação Portuguesa de Apoio à Vitima (APAV), sobre o estudo publicado nesta quarta-feira pela Agência para os Direitos Fundamentais da União Europeia.

Em Portugal, 24% das mulheres já foi vítima de violência física ou sexual. Ainda assim, este número fica abaixo da média europeia, que é de 33%. O estudo baseia-se em 42 mil entrevistas a mulheres dos 28 Estados-membros.

A questão da violência psicológica também foi abordada no estudo: 36% das portuguesas afirma que sofreu este tipo de violência. Neste caso, a média europeia fixa-se nos 43%.
O estudo alerta ainda para a falta de conhecimento por parte das mulheres no que respeita à legislação para a proteção de vítimas: 34% das mulheres inquiridas não sabe da existência de leis e políticas nacionais de prevenção. No entanto, 70% das mulheres portuguesas conhece as campanhas contra a violência domestica, superior à média europeia, que se centra nos 50%.

O papel de prevenção

A APAV é uma das instituições responsáveis pela ajuda a pessoas que sofrem de violência. Em 2013, a associação registou 8.733 casos de vítimas diretas de crime, um decréscimo face a 2012, ano em que se registaram 8.945 situações. A instituição colabora diretamente com forças policiais e serviços da segurança social para dar resposta aos pedidos efetuados.

“Dentro da violência doméstica há muita violência sexual, física e psicológica”, diz Ana Castro Sousa, da APAV. Por isso, a prevenção e o alerta têm sido pontos importantes na luta contra este flagelo. “Estamos a trabalhar nessa questão ao nível da prevenção, através do projeto ‘Unisexo'”, refere a mesma fonte, tendo em vista uma sexualidade positiva no namoro dos jovens, onde a violência “é mais ou menos equiparável em termos de género”.

Dar a ganhar aos jovens uma competência para perceber o que são relações sem agressões também é fulcral. “Temos vindo a trabalhar essas questões e tentado ajudar os jovens a perceber o que é que são relações saudáveis e relacionamentos íntimos saudáveis. Isto pode-se treinar como outra competência qualquer que se pode ganhar. É preciso alertar os jovens nesse sentido”, diz a gestora da APAV.

A violência desconhecida

Ainda são muitas as pessoas que desconhecem que são vítimas ou agressoras de violência doméstica. Um dos casos mais comuns é o ciúme, que é aceite por muitos casais como um ato normal e até interessante do ponto de vista relacional, apesar de a culpa não recair sobre os envolvidos.

Conceição Nogueira, professora auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), diz ao JPN que “a culpa não é das pessoas, mas sim dos próprios discursos que andam à nossa volta, na comunicação social, no filmes e nas narrativas à volta do que é uma relação amorosa e a posse do sexo masculino pelo feminino”.

Este desconhecimento é associado à pouca consciência dos efeitos, do impacto “de quem exerce, que está a exercer poder e de quem recebe, que está a ser alvo de um poder”, afirma Conceição Nogueira. Ana Castro Sousa, da APAV, diz que “há muita tolerância e muita violência psicológica e até física consentida” e pretende, com o projeto “Unisexo”, alertar os jovens para o que é uma relação saudável entre o casal.