Tendo já sido apresentado em Braga e no Porto, o livro “Cunhal/Cem Anos/Cem Palavras” teve agora direito a uma exposição um pouco mais intimista, nos já clássicos Serões da Bonjóia. Numa iniciativa da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, o mote foi para que cada autor escolhesse uma palavra que associasse a Álvaro Cunhal e, a partir daí, desenvolvesse uma história pessoal.

Cunhal “é ainda necessário”

A sala de conferências da Quinta da Bonjóia encontrava-se repleta, mas nem só dos co-autores presentes viveu o serão. Houve ainda tempo para conferencistas partilharem o símbolo que Cunhal foi para eles, mesmo à distância. E houve também oportunidade para confrontos de pontos de vista políticos, como seria inevitável. A noção mais consensual da noite, no entanto, veio pela boca de César Príncipe – a de que Álvaro Cunhal, esse homem de rutura, “é ainda necessário hoje em dia”.

Numa conferência fluída e informal, Carlos Mota Cardoso iniciou os procedimentos com um elogio a uma “figura eminentemente de rutura, com um caráter progressista superlativo”. Admitindo encontrar-se afincadamente no espetro político oposto, o médico portuense reconheceu, contudo, que Álvaro Cunhal merecia uma reverência de todos, pois, “apesar de ser eclético e superlativo nas questões fraturantes que promovia, tinha sempre um grande eixo de coerência”.

De seguida, tocou ao jornalista Germano Silva traçar a afetividade que se escondia num homem reconhecido por uma disposição austera, “que apenas o era por Cunhal se revestir de uma sobriedade própria dos verdadeiramente sábios”.

Outros contribuidores para o livro acrescentaram os seus momentos em que se cruzaram com Cunhal: César Príncipe caracterizou o líder histórico como alguém que não procurava nunca o protagonismo para si, apenas para as causas; e Júlio Roldão relatou a acessibilidade de uma figura tão eminente, incapaz de dar por terminada uma entrevista simplesmente porque a conversa ainda não se havia esgotado.