A primeira conversa do projeto “Diálogos”, na Reitoria da Universidade do Porto (UP), ficou marcada pelas opiniões vincadas de Pedro Arroja, economista e professor no Instituto Superior de Estudos Financeiros e Fiscais, e Manuel Monteiro, jurista e professor na Universidade Lusíada do Porto. O debate, com o tema “Portugal: presente e futuro”, foi moderado por Vicente Ferreira da Silva e contou com uma audiência atenta e participativa.

A intervenção inicial de Pedro Arroja desenvolveu-se em torno do livro “F. – Portugal é uma figura de mulher”, publicado em 2013 e dedicado à neta do economista. O livro reflete os ensinamentos que o professor pretende transmitir às gerações mais novas e denuncia as instituições que, segundo o autor, “contribuíram para a ruína do país”. A democracia partidária, o republicanismo, o constitucionalismo e o Estado-providência são algumas das apontadas.

Um Livro para o Joãozinho

Pedro Arroja é diretor da Associação Humanitária “Um Lugar para o Joãozinho”. Criada a 13 de janeiro de 2014, a associação tem como principal objetivo angariar meios financeiros para construir as novas instalações da ala de pediatria do Hospital de S. João. A concretização do projeto implica 16 milhões de euros. As receitas do novo livro do economista, “F. – Portugal é uma figura de mulher”, revertem a favor da instituição.

De opiniões pouco consensuais, o economista não hesita em defender a religião católica e a restauração da monarquia. “A nossa verdadeira tradição é monárquica e foi sob a monarquia que vivemos os nossos melhores momentos”, afirmou. Arroja referiu ainda que Portugal é um país de “grandes importadores e péssimos exportadores”, apontando o dedo ao liberalismo económico. “Em regime de comércio livre e mercado único, temos défices permanentes”.

Com uma visão ideológica diferente, Manuel Monteiro começou por criticar os “reis esbanjadores” da época monárquica defendida por Arroja, assumindo-se republicano. “Gosto da ideia de República, em que cada cidadão pode ser um Estado”, justificou o jurista.

O professor da Universidade Lusíada considera a “falência das elites” a causa dos problemas do país. “Substituímos as elites por dirigentes e substituímos a escola por instituições para, estatisticamente, dar graus académicos e suprir falhas que o país tinha face a concorrência”.

Monteiro vincou que o futuro do país “passa por criar elites livres e reforçar os poderes presidenciais”. O jurista reforçou que cada cidadão deve assumir as suas responsabilidades e relembrou a importância de ter a Universidade, a Justiça e a Imprensa, enquanto três instituições livres e fortes de um país. “Nós não temos imprensa livre”, afirmou.

O ciclo de conferências “Diálogos” conta com mais três sessões. No dia 13 de março, às 21h30, Rui Neves, Luís Portela e António Tavares vão estar na Reitoria da Universidade do Porto para debater o tema “Ética: Valor Indispensável?”.