A praça Marquês de Pombal, em Lisboa, encheu-se, na quinta-feira, de polícias que se juntaram em protesto, depois de, em novembro passado, as reivindicações pedidas pela classe não terem sido ouvidas. De acordo com José Mendes, presidente da distrital de Lisboa da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, “o número de manifestantes varia entre os 18 e os 20 mil”. Os gritos da revolta foram claros. “As reivindicações que nós já fazíamos sentir não se alteraram nada. Houve, inclusive, um agravamento nessas situações, relativamente aos protestos e às preocupações dos serviços e forças de segurança”, refere o agente da PSP.

Prestar uma boa segurança ao cidadão é o objetivo das forças de segurança envolvidas nos protestos, mas nem sempre o conseguem fazer por situações diversas. No entanto, José Mendes diz que os agentes da força e serviços de segurança “querem fazer parte da solução, não do problema”. “Sempre tivemos essa postura”, afirma.

Cenário de risco

A manifestação foi convocada pela Comissão Coordenadora Permanente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia e obrigou à mobilização de centenas de polícias para garantir que os protestos não atingiam proporções de escala maior no que respeita a atos de violência.

Apesar de desempenharem uma profissão de desgaste rápido, pela forma como tem de ser exercida, José Mendes apela ao bom senso. As manifestações de quinta-feira refletem “situações que se têm vindo a aglomerar e a criar revolta” e a forte adesão expressa o “descontentamento e o descrédito do poder político”. “Os nossos governantes não merecem as forças de segurança que têm”, defende o agente.

Durante toda a manifestação, foram várias as tentativas de invasão ao Parlamento que levaram a confrontos entre o corpo de intervenção e os manifestantes. Face às atitudes mais violentas que puseram em confronto polícias contra polícias e que feriram dez manifestantes, o agente da PSP classifica-as como “irrefletidas”. No entanto, apesar de traduzirem “situações de desespero”, “prevaleceu o bom senso”.

Sentir na pele o descontentamento

O JPN falou com vários agentes, mas só um quis prestar declarações sobre o retrato social que o país viu esta quinta-feira na Assembleia da República. Em conversa com o JPN, o agente da Polícia Judiciária que pediu o anonimato fala de um conjunto de situações que estão na base dos protestos, nomeadamente o corte direto nos vencimentos e o aumento das percentagens no desconto para a Caixa Geral de Aposentações e para o Sistema de Saúde.

O agente, que classificou as atitudes de violência como um gesto “implorável”, diz que “as carreiras estão congeladas, não há subida de escalões” e que “ninguém vislumbra fazer carreira nas forças de segurança”.

Questionados sobre as razões que fizeram os polícias sair em protesto, os portugueses mostram-se solidários e concordam com a manifestação.

Dez feridos e dois manifestantes identificados por desacatos é o balanço desta ação que promete ser repetida, caso o diálogo que aconteceu entre a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e o grupo encabeçado por Paulo Rodrigues, secretário nacional da Comissão Coordenadora Permanente, não traga novidades.