Nos corredores da Exponor, no Porto, foi fácil perceber uma grande adesão feminina. Não foram o sexo forte no Salão Erótico, mas vieram em força e, na maior parte dos casos, na companhia do parceiro. Foi o caso de Marta (nome fictício), pela primeira vez no Eros Porto e logo num dia especial. “Foi uma prenda para o casal”, conta.

As mulheres conquistaram o poder de ser, fazer e pensar como bem lhes apetece, mas será que estão mesmo mais confortáveis e confiantes em explorar a sua sexualidade? “Muito mais e é normal. A mulher tem é de se assumir e isso é bonito de ver”, refere a jovem.

Dia 8 de março não foi só Dia da Mulher

Uma flash mob global pelos direitos dos trabalhadores do sexo aconteceu em 12 países, desde o Peru até à Austrália. Em Portugal, o Porto foi a cidade onde se abriu o guarda-chuva vermelho, símbolo da causa. Aos artistas do Salão Erótico coube o papel de desfilarem pelo recinto da Exponor de guarda-chuva na mão. Érica Fontes, a mais conhecida atriz pornográfica portuguesa, abriu caminho por entre os corredores e, em conversa com o JPN, confessou que esta iniciativa é ainda mais importante pelo dia em que ocorre. “São as mulheres que fazem o erotismo” e não devem ter problemas em explorar a sua sexualidade, até porque, segundo Érica, são elas que estão a começar a “dominar o mundo”.

Mulheres do Norte são menos preconceituosas

Para muitas, o facto de ser Dia da Mulher pode ter impulsionado a decisão de vir, mas não foi fundamental. Ana (nome fictício) trouxe o marido e concretizou uma vontade que já tinha há algum tempo. “Já não há tabus nem assuntos proibidos” e é importante partilhar uma experiência destas a dois, porque “tem de haver abertura e tem que se falar sobre estas coisas”, remata.

Vânia Beliz, sexóloga, já participa no Salão Erótico há seis anos e concorda com esta ideia. “É gratificante ver mais casais do que homens ou mulheres sozinhas. Para melhorarmos a nossa intimidade temos que fazê-lo a dois”, explica. Algarvia, Vânia vê nas mulheres do Norte um maior desembaraço, até mesmo em relação aos homens. “É uma mulher mais forte, aberta e menos preconceituosa. Às vezes, os parceiros estão tímidos e elas é que avançam para comprarem brinquedos ou terem novas experiências”, observa.

Salão de dança e palco de pornografia

Carla (nome fictício) passeia de braço dado com o namorado. Afirma que veio por curiosidade e que não sente qualquer desconforto ou vergonha. “Quem cá vem não tem medo de ficar com qualquer rótulo. Já aconteceu no passado, mas foi desmistificado”, conclui. Fátima (nome fictício) veio com duas amigas e explica que há uns anos atrás era pouco provável encontrá-la aqui. “Ia ter um bocadinho de vergonha, mas agora não. Estou à vontade e a vergonha fica em casa”, refere.

Sexualidade feminina para totós

No passado dia 5 de março, o salão nobre do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS) recebeu, sem tabus, a sexóloga Vânia Beliz. Na assistência poderiam estar “tótós” na matéria, porque o tema foi exposto com muita naturalidade e simplicidade. O papel da mulher na sexualidade foi o “ponto G” da conversa.

As mulheres estão cada vez mais exigentes, “o que é um problema para os homens”, diz Vânia. Exigente com ela mesma, ser “desejada” já não é suficiente. O ser feminino quer, também, sentir-se “desejável”, confiante para poder dominar. Assim, em alguns casos, a mulher passou a “vestir as calças” no sexo, o que pode trazer algumas complicações. A sexóloga explicou que, “quando um homem percebe que a mulher é mais experiente do que ele, fica muito intimidado” e até mesmo com medo. O papel da mulher está, assim, a assustar o sexo oposto, ainda que haja quem lhes preste vassalagem com todo o gosto. A compreensão do casal é a semente de um relacionamento saudável e feliz e, se a crise torna as “pessoas tristes e deprimidas”, “o amor devia existir por si só”, realça Vânia.

Para quem fica em casa por pudor, Vânia explica que não é só de pornografia que é feito o Salão Erótico. Há “áreas de diversão e informação” e, pela primeira vez, “uma área exclusiva dedicada às mulheres e aos casais”. Neste espaço é possível ter aulas para aprender a seduzir através da dança, assistir a tertúlias e apresentações de livros, contar com o apoio de especialistas e participar em vários workshops. Teresa (nome fictício) concorda com a iniciativa e acha que “têm de valorizar a mulher cada vez mais”, em futuras edições.

Mas quem é que fala mais de sexo?

Quando estão reunidas com o seu grupo de amigas, as mulheres trazem mais vezes o sexo para a conversa. Marta diz que não fez questão de manter secreta esta incursão ao universo do erotismo e que o sexo feminino está “mais à vontade [do que os homens] e não tem problemas em confessar o que é que já fez e experimentou”, atira. Já Teresa considera que os homens falam menos mas são “mais atrevidos”.

Para Vânia Beliz, as mulheres falam mais e encolhem as estatísticas. Já os homens tendem a falar menos, mas quando o fazem são mais fantasiosos e evitam entrar no campo mais íntimo. No entanto, de acordo com a sexóloga, a visita ao Eros Porto, mais do que uma guerra dos sexos, deve desbloquear uma “conversa importante entre o casal”.