Foi há dez anos que Madrid acordou para um dos seus dias mais negros. Os atentados bombistas do 11 de março fizeram 191 mortos e cerca de 1.800 feridos. Passada uma década, o JPN foi conhecer o testemunho de quem hoje tem de sair à rua na capital espanhola.

Passados dez anos, os espanhóis parecem não querer relembrar o dia que esta terça-feira se assinala. “Um dia triste”, descreve Alejandro Delos, estudante da Universidade Complutense de Madrid, que confirma que “as pessoas não se querem lembrar muito daquele dia“.

A 11 de março de 2004, por voltas das oito da manhã, circulavam notícias de duas explosões em comboios na estação de Atocha e imediações. Ao fim de algumas horas, registavam-se dez explosões em quatro comboios de Madrid e contavam-se mais de 190 mortos e cerca de 1.800 feridos.

Laura Lópes Lázaro, estudante da Universidade Carlos III, diz que os espanhóis não se devem querer lembrar do que se passou, “a menos que sejam próximos de alguém que tenha falecido ou ficado ferido”. “Até ontem, eu nem me recordava que hoje seria o dia do 11 de março”, admite.

Sandra Sandrunklish, também da Universidade Carlos III, diz não ter perdido ninguém próximo, por isso acredita que relembrar o dia de hoje seja mais difícil para quem o tenha vivido de perto. “Como madrilena, sinto-me indignada, porque ainda se especula quanto à origem do atentado e as famílias que sofreram perdas continuam a ter de relembrar aquele dia”, afirma.

Os espanhóis parecem culpabilizar o Governo que os “ignorou”, como diz Sandra, quando decidiu enviar tropas para a Guerra do Iraque. “Ainda assim, fomos nós que pagámos as consequências e não eles”, termina.

Tanto Alejandro como Laura acreditam que esta terça-feira não vai ser marcada por grandes cerimónias de homenagem. “Nos últimos anos,” afirma Alejandro, “as celebrações nunca têm muita gente”, explicando que “os políticos dizem responsabilizar a ETA pelo atentado, mas as pessoas acreditam que a culpa é da Al Qaeda” e que, por isso, as homenagens acabam por ser feitas separadamente.

O “alto” risco de atentado

O Ministério do Interior de Espanha classificou, na segunda-feira, como “alta” a possibilidade de um novo atentado, segundo o “El País”, que pressupõe que o Governo espanhol tenha ativado o nível 2 de alerta. As principais ameaças, segundo o diário espanhol, provêm de células locais radicalizadas ou de indivíduos que atuem segundo os ideais da Al Qaeda.

Em termos de segurança, Laura acredita que as pessoas não vão ter medo. “Eu vou viajar de comboio e passar por Atocha e não é divertido que te digam que há um alto risco de atentado”, confessa.

Também Alejandro admite que os espanhóis não devem sentir falta de segurança. “Agora, os espanhóis já não temem o terrorismo. Temem sobretudo o desemprego”. Alejandro conta que se “vive uma época diferente”, porque “desde que a ETA pareceu cessar as suas atividades”, as pessoas “já não se preocupam tanto com isso”.