A 13 de março de 2013, o fumo branco que saía da Basílica de São Pedro preconizava a chegada de um novo Papa para o mundo. O nome, Jorge Mario Bergoglio, era pouco conhecido entre a comunidade católica, o que causava uma grande desconfiança junto dos fiéis. Ainda assim, a sua eleição acabou por ser inesperada, pois havia sido nomeado o primeiro Papa sul-americano na história da Igreja Católica.

Um ano mais tarde, a desconfiança transformou-se em admiração completa da comunidade cristã por Francisco, nome que escolheu em homenagem à simplicidade pregada e praticada pelo fundador da Ordem Franciscana, para que desde o início ficasse claro que pretendia uma Igreja mais próxima dos desprotegidos.

Cordial desde o começo da sua eleição, Francisco cedo demonstrou que iria provocar uma rutura com o legado de Bento XVI, procurando uma maior proximidade junto dos católicos.
Durante os últimos 365 dias, o Papa foi deixando a sua marca na Igreja, por gestos, palavras e atitudes, que fizeram de Francisco um verdadeiro fenómeno a nível mundial.

Personalidade do ano da TIME

Em dezembro de 2013, Jorge Mario Bergoglio foi considerado personalidade do ano para a revista TIME, que explicou a nomeação por considerar que, “em escassos meses, Francisco elevou a missão de reconfortar da Igreja, na missão de servir e confortar os que mais precisam”.

Um verdadeiro fenómeno nos media e nas redes sociais, o Papa retirou das gavetas do Vaticano e discutiu abertamente temas polémicos junto da Igreja Católica, como o aborto ou o casamento homossexual. Relativamente a este último tema, importa dar destaque para uma das frases proferidas por Francisco durante a sua viagem ao Brasil, em julho do ano passado, para assistir à 28.ª edição das Jornadas Mundiais da Juventude, no Rio de Janeiro. O sumo pontífice referiu: “Se uma pessoa é gay e procura Deus de boa vontade, quem sou eu para a julgar?”.

Para o Padre Américo Aguiar, da diocese do Porto, apesar das grandes esperanças que a eleição de um novo Papa tem sempre junto dos católicos, é incontornável que o papado de Francisco tem ultrapassado as melhores expectativas.

Segundo Américo Aguiar, o pedido de Bergoglio, de receber a benção dos católicos que estavam na noite da sua eleição na Praça de S. Pedro, foi o mote para um início de papado de proximidade para com os fiéis. O vigário, que estava em Roma aquando da eleição de Francisco, realça o simplicidade do Papa e a sua importância para a reforma da Igreja Católica. Para o padre, o seu caráter mais emocional prende-se com a personalidade marcadamente sul-americana de Jorge Mario Bergoglio.

Se é possível fazer uma avaliação, essa é “muito positiva”. Segundo António Bacelar, responsável pela Pastoral Universitária do Porto (PU Porto) e pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil do Porto (SDPJ – Porto), o Papa Francisco não veio trazer uma mudança, mas sublinha a novidade do Evangelho”. “A mudança encontra-se na forma como ele transmite essa novidade”, explica.

António Bacelar acrescenta ainda que é a autenticidade que define o pontificado de Francisco I, a “transparência nos gestos e nas palavras sempre prontas”, afirmando que Jorge Mario Bergoglio é “um homem perfeitamente imbuído de Deus”.

No que toca à ligação com os jovens, António Bacelar explica que, apesar dos quase 80 anos, o Papa conquistou os jovens católicos. “Basta ver os cerca de quatro milhões de jovens reunidos em Copacabana nas Jornadas Mundiais da Juventude, no ano passado”. No entanto, destaca a capacidade deste Papa de “se tornar um com o outro, quer sejam jovens, adultos, doentes ou marginalizados”.

Um Papa virado para a juventude

A forte ligação de Francisco com os jovens ficou bem demonstrada nas últimas jornadas mundiais da juventude, realizadas no Rio de Janeiro, no Brasil. O Papa pediu aos jovens que se comprometessem nos campos social e político para poderem “mudar o mundo”. Mariana Maia faz parte do grupo de jovens na paróquia de Arcozelo, em Vila Nova de Gaia, e realça a diferença na mentalidade dos católicos perante a atitude de Francisco. A jovem destaca a proximidade de Francisco e o seu caráter humano junto dos fiéis.

Para Mariana Maia, Francisco tem olhado para os ideais católicos com uma visão menos materialista, o que, acredita, fá-lo-á entrar na história da Igreja Católica.

Soraia Barros descreve o Papa como uma “lufada de ar fresco”. Numa altura conturbada da Igreja, a estudante da Universidade Nova de Lisboa conta que Francisco veio para conciliar as diferenças e marginalizações. “Lembro-me de uma das suas grandes manchetes, na altura das Jornadas Mundiais da Juventude, em que se perguntava: ‘Quem sou eu para julgar os gays?’ e toda a gente sabe que essa é uma questão delicada dentro do seio da própria Igreja”.

Mais do que o chefe da Igreja, alguém próximo. “Ele próprio assume-se alguém normal, normal ao ponto de abdicar dos luxos a que tinha direito”. Para a jovem, o Papa vive no século XXI.