A conferência que, nesta quinta-feira, a Reitoria da Universidade do Porto (UP) recebeu, no contexto da 5.ª edição do Ciclo de Conferências Diálogos 2014, contou com a presença de diversas personalidade, nomeadamente António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, Luís Portela, presidente da Bial, e Rui Nunes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. O comissário Vicente Ferreira da Silva deu início à exposição de ideias sobre o tema em discussão.

Ética de solidariedade

Após uma breve apresentação dos convidados, o primeiro palestrante, António Tavares, começou por responder à questão “Serão a ética e os resultados incompatíveis?”. A seu ver, este assunto adquire maior relevo em tempo de crise. A sua experiência profissional na área da solidariedade social permite-lhe uma maior perceção de que trabalhar com pessoas implica, necessariamente uma ética de solidariedade: “O lucro é um meio e não um fim, um meio para agir”, realça.

No seguimento desta ideia, o provedor contou a história do Conde de Ferreira, que no decurso da sua vida fez fortuna à custa do trabalho escravo. No entanto, à beira da morte, arrependeu-se, deixando, no seu testamento, uma considerável quantia destinada à edificação de um hospital na cidade do Porto. Este caso ilustra precisamente o contrário do que representa a ética de solidariedade atualmente, que implica “boa vontade e generosidade” diárias.

Para responder à questão de partida, António Tavares conclui que “se esta questão fosse colocada no século XIX, provavelmente a resposta seria totalmente diferente”, mas a ética adapta-se ao tempo e, hoje, pode ser compatível com os resultados “se soubermos dar-lhe exatamente o que pretendemos atingir”.

Ética empresarial

“Somos antes de tudo seres humanos. Depois, somos profissionais ao serviço da organização”, começou por expôr Luís Portela, presidente da Bial. O seu discurso toma outro rumo, destacando a ética e a sustentabilidade em estreita relação com o respeito pelos valores universais, tais como a igualdade, a justiça e a competência profissional.

“A ética e a sustentabilidade são indispensáveis numa conduta empresarial”, faz notar. Neste sentido, sugere às empresas que se juntem para criar regras na atividade, ou seja, as condições necessárias para que o número de empresas que contrariam a ética seja cada vez menor. E conclui: “A ética é dos maiores ativos de uma instituição”.

Ética para todos

Mas para Rui Nunes, professor catedrático e diretor do Departamento de Ciências Sociais e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, “os valores [éticos] geram valor na própria sociedade”, ao nível da construção pessoal e social. “Podemos e devemos ter audácia de tentar construir um punhado de princípios, de valores, de orientações do ponto de vista ético que nos guiem no plano individual e no plano coletivo”, afirma.

No seu entender, o exercício da liberdade ética da pessoa, a igualdade de oportunidades e a justiça social são “princípios que se podem traduzir também em direitos”. “Cada um de nós deve poder fazer as suas escolhas”, mas “faz sentido (…) que nos organizemos igualmente para amenizar” as desigualdades biológicas, genéticas e sociais, explica, acrescentando a importância de um “espaço que possa fazer a convergência destes valores todos”.

Contudo, a crise que o país vive está a comprimir valores como a solidariedade entre gerações “até um ponto que pode vir a ser insustentável”, finaliza Rui Nunes.

A 5.ª edição do Ciclo de Conferências Diálogos 2014 terminou o tema da ética com a discussão de exemplos de comportamentos em prol da comunidade e, no dia 21 de março, às 21h30, oferece a oportunidade de partilha e debate de ideias sobre o futuro da relação entre Portugal e a Europa.