Elephant” (2003) trata diferentes universos dentro da adolescência. São apresentadas problemáticas – minorias, bullying, acesso fácil a material ilícito – para deixar o espetador refletir, para possivelmente não chegar a conclusão alguma. É essa a proposta de Gus Van Sant, o realizador que trata o tema de forma pouco convencional e que deu o mote a mais uma sessão de cinema sobre educação na Casa das Artes.

Dois adolescentes, vítimas de bullying, engendram um plano para aterrorizar uma escola e, de alguma forma, fazer justiça. O espetador tem, então, a tarefa de decidir até que ponto esse plano é legítimo, refletindo sobre o papel da escola, do professor e dos pais. Esta realidade relaciona-se com a do argumento, baseado no massacre de Columbine, nos EUA.

O filme é protagonizado por atores amadores que são os próprios alunos da escola. No filme, as personagens têm os mesmos nomes que os atores que a encarnam. Talvez por isso haja uma tranquilidade em todo o filme, que acaba por ser perturbadora no meio de uma violência extrema.

Um filme para o qual não existe resposta

Fernando José Pereira, docente na Faculdade de Belas Artes, considera que, em termos plásticos, este filme “é algo fascinante” devido à ideia de temporalidade presente nos longos planos de sequência e nos planos de pormenor. “Enquanto artista plástico, considero importante esta temporalidade porque se opõe à comunicação do nosso tempo: uma comunicação de velocidade”, acrescenta.

Já Rui Trindade, docente na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, considera que este é um bom filme no sentido em que “não é um filme que anuncia a salvação”. Como afirmou o docente, “há um grande contraste com a produção hollywoodesca na qual os filmes acabam sempre num happy end. Com este filme nós sentimos que não temos resposta, é algo que nos confronta”.

Apesar da reação positiva dos convidados, houve também alguma discórdia na plateia. Embora o filme aborde a “temática conturbada da adolescência” há quem considere que “acaba por chatear”. Em defesa do filme, António Costa, da Medeia Filmes, que escolheu a programação do ciclo, respondeu que o filme acaba por ser “um romance contemporâneo”.

“Apesar deste lado irreal, a verdade é que toda a vida de um liceu está ali. Temos a sala de aula, a cantina, os corredores, o exterior com as aulas de ginástica e temos diferentes grupos de alunos. Temos todas as coisas que se veem numa escola”, finaliza António Costa.

A próxima sessão vai decorrer no dia 24 de março com o filme “O Enorme Sonho”, de Sebastian Grobler.