Medeiros Ferreira era “uma figura que aliava a uma intensíssima sabedoria e uma vastíssima cultura à sua intervenção política”. Quem o diz é João Teixeira Lopes, sociólogo e professor catedrático na Faculdade de Letras na Universidade do Porto (FLUP).

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros foi um dos responsáveis pela entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), fruto da sua intervenção “de grande visão estratégica”. Para o sociológico, Medeiros Ferreira, “não se limitava àquilo que se costuma chamar “espuma dos dias”. Tinha sempre uma visão mais alargada, de grande amplitude”, o que se revelou notório na ligação à Europa. “Foi um dos primeiros estrategas a conseguir o reposicionamento da Europa pós 25 de abril e enfim, do nosso império colonial”, diz Teixeira Lopes.

Historiadores e politólogos admiram-lhe a forma de pensar, uma visão alargada. “Soube pensar de forma especialmente lúcida a posição de Portugal no mundo”, refere Teixeira Lopes, acrescentando que “logo após o 25 de abril, soube designar esse futuro para Portugal, futuro que veio a cumprir”. “Mas foi alguém que simultaneamente soube criticar o rumo que a própria Europa estava a levar no sentido de não se ter transformado numa união de povos”, afirma.

Solidariedade, unidade de biodiversidade, capacidade de concertação e não imposição ou esmagamento de alguns Estados por outros são características que definem o político, na opinião de Teixeira Lopes, para quem as bases históricas do político foram importantes para determinar um futuro político ligado à Europa.

Jean Monnet: “Pai da Europa” morreu há 35 anos

E com a Europa como pano de fundo, também esta semana se assinalam os 35 anos da morte de Jean Monnet, um dos maiores impulsionadores da integração europeia e do federalismo no século XX. Conhecido pelo seu dom de comunicação e persuasão, levou os grandes líderes da Europa a compreender a necessidade de se unirem para manter a paz.

Monnet foi o principal responsável pela elaboração da “Declaração Schuman”, em 1950, que levou à criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. O francês entendia que, ao partilharem a produção daquelas matérias-primas, as maiores potências da Europa seriam capazes de evitar novas Guerras Mundiais. A CECA foi a primeira das entidades europeias que culminariam, mais tarde, na União Europeia e na organização da Europa tal como a conhecemos hoje.

Manuel Loff, professor de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) descreve esta figura como “um empresário habituado às negociações de comércio internacional sobretudo no material ligado ao armamento”. “Monnet tem razão. Ele coloca dois dos maiores produtores de aço da Europa a partilhar o mesmo mercado”, refere o historiador, alertando que Monnet foi um dos principais políticos a ter a noção de mercado de dimensão única.