Coimbra tem cerca de 140 mil habitantes. O mesmo número de pessoas que perderam a vida nestes últimos três anos em que as milícias do governo e dos rebeldes varreram o território sírio. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos revela ainda que, entre os mortos, mais de 7600 são crianças e cerca de cinco mil são mulheres. Estatísticas que não incluem os presos políticos, desaparecidos e os grupos armados leais ao governo de Bashar al-Assad.
Rami Abdelrahman, responsável pelo Observatório, disse à Reuters que estes dados não mobilizam as instâncias internacionais. “Estão apenas a ver esta tragédia. Os sírios que morreram são apenas dados estatísticos para elas.” A Rússia atou as mãos da ONU ao vetar a proposta de intervenção militar no país e resumiu o campo de ação da organização ao auxílio prestado aos refugiados, atualmente cerca de nove milhões. Destes, 4,5 milhões atravessaram a fronteira e encontraram um refúgio na Jordânia, Líbano, Iraque e Turquia. Isto faz com que um em cada oito sírios tenha fugido do país. Só no Líbano há, pelo menos, 900 mil refugiados, o que já representa um quarto da população, de acordo com a plataforma europeia Syrian Refugees.
Fugir da guerra para mergulhar nos estudos
Na Europa, menos de 100 mil sírios procuraram asilo, sendo que a Suécia e a Alemanha foram os principais destinos. Portugal também entrou no mapa europeu de apoio a esta nova vaga de refugiados através da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência, iniciativa do ex-Presidente da República Jorge Sampaio. As universidades e escolas politécnicas de norte a sul do país vão receber 200 estudantes sírios que vão poder voltar a abrir os manuais num ambiente de estudo seguro.
Para António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, estamos perante uma nova “população mundial de refugiados”, a principal vítima de um conflito onde a fome e a miséria aumentam e os “abusos” são utilizados como estratégia de guerra e, muitas vezes, infligidos pela próprias forças contra o regime.
Uma luta que se trava em dois sentidos, uma vez que a oposição não só não está unida, como tem, por outro lado, projetos diferentes para o pós-guerra. Entre os planos de laicização do Estado com aprofundamento das raízes democráticas e a refundação de um estado islâmico, a paz não deve regressar ao território sírio a médio ou curto prazo. Mesmo que Assad “caia” da cadeira do poder ainda vai ser preciso esperar por uma verdadeira primavera.