“Começou a perceber-se que o online não era uma réplica daquilo que era produzido mas percebeu-se que servia ele próprio como plataforma com linguagem específica onde convergem vídeo, a fotografia, o áudio e novos projetos de multimédia”. Para Vanessa Rodrigues, jornalista independente e professora de ciberjornalismo na Universidade Lusófona, o surgimento do meio digital significou uma nova forma de contar histórias.


Manuel Molinos
Editor-executivo-adjunto do Jornal de Notícias

Hoje em dia, o jornalismo é pautado pela convergência. Ao texto, juntam-se o vídeo, as fotografias e outras ferramentas que complementam as narrativas. O jornalista de hoje tem mais recursos. “A tecnologia está sempre em marcha e estão sempre a aparecer novas maneiras de apresentar conteúdos. Temos, por exemplo, o HTML5 que é a linguagem mais usada para reportagens com conteúdos mais pesados, mais longos”, explica Manuel Molinos, editor-executivo-adjunto do Jornal de Notícias, para quem a apresentação da informação é uma das duas grandes transformações no mundo do jornalismo na última década. A outra é o consumo de informação.

A informação na ótica do consumidor

A tecnologia evoluiu mas não só do lado de quem produz. Também a forma de consumir informação atravessou uma metamorfose. As rotinas de espectadores, ouvintes, leitores fundiram-se e deram lugar ao consumidor. A informação está em movimento e ao alcance rápido em qualquer altura e lugar. “Hoje em dia o primeiro a dar a notícia é o online ou até o mobile“, diz Vera Moutinho, do Público.

Já António Granado coloca as redes sociais como peça central do novo paradigma: “As redes sociais vieram modificar a forma como as pessoas acedem às próprias notícias, como as pessoas se relacionam umas com as outras e como obtém informação”. Para o investigador e professor universitário, a revolução digital da última década ultrapassou o mundo jornalístico. Os papéis e funções sociais modificaram-se: “Os órgãos de comunicação social já não são vozes isoladas. Estamos num ambiente onde há uma multiplicidade de vozes o que faz com que a nossa tenha menos importância do que há alguns anos atrás”.

O problema da sustentabilidade do negócio


Hélder Bastos
Professor universitário (Universidade do Porto)

Hélder Bastos, professor na Universidade do Porto, encontra na migração das audiências um paralelo com a migração de anunciantes. Até aqui, o modelo de sustentação financeira do jornalismo era assente na publicidade mas com a presença no online, os anunciantes olham para outras plataformas mais rentáveis como os agregadores de conteúdos. E a diminuição de investimento nas redações traz, para Helder Bastos, uma realidade cruel: “Se há menos dinheiro, se as equipas são mais reduzidas , se os anunciantes estão a ir para outras paragens, temos um problema. Nós não podemos fazer melhor jornalismo com menos gente e mais precária”.

Uma opinião partilhada por Elvira García Torres, professora da Universidade Cadernal Herrera, em Espanha, que considera o jornalismo “em perda de peso qualitativo” na última década. Talvez o jornalismo esteja a pagar fatura de contas antigas. Manuel Molinos fala do pecado original: a não imposição de conteúdos pagos. “Não houve ninguém, nestes últimos dez anos, que conseguisse encontrar a fórmula certa para os seus conteúdos pagos”.


Manuel Molinos
Editor-executivo-adjunto do Jornal de Notícias

O crescente impasse na sustentabilidade financeira do negócio e a dificuldade de acompanhamento das transformações digitais da última década lançaram novos desafios à profissão. São cada vez mais os meios e ferramentas para ajudar os jornalistas e a ubiquidade da informação obrigou a que se ganhassem novas rotinas e se modificassem comportamentos. Contudo, os jornalistas ouvidos pelo JPN, consideram que o essencial da profissão se manteve.

O novo paradigma da profissão

Charles Homans, editor executivo e criador da plataforma “The Atavist“, considera que houve uma mudança de ritmo na forma de produzir jornalismo. Acabaram as deadline diárias e as histórias estão em constante atualização. Para o norte-americano “há menos dinheiro, mas toda a gente está a trabalhar mais com menos recursos, o que por um lado não é ideal, mas por outro lado tem-se tornado mais eficiente. E tem-se tornado mais fácil obter informação do que costumava ser”.


Charles Homans
Editor executivo do The Atavist


Ana Isabel Pereira
Jornalista do Porto 24

Filipe Caetano, jornalista da TVI24, considera que a internet agilizou os processos de divulgação e acesso à informação: “Se olhar para há dez anos, não era tão fácil procurar notícias, tanto a nível nacional como internacional, e não era tão fácil muitas vezes chegar a certas fontes mas hoje em dia torna-se muito mais fácil chegar a certas pessoas porque a internet o permite”.

Uma mudança que Travis Fox, jornalista e realizador de Frontline vencedor de um Emmy, sentiu desde que chegou, há dez anos, à redação do Washington Post: “A paisagem dos media está completamente diferente. Há dez anos estava a trabalhar no Washington Post a produzir vídeos para o website deles e agora existem algumas diferenças em termos de formas e maneiras de contar a história”.

As novas ferramentas obrigaram a uma reinvenção na forma de atuar no jornalismo. Ao caderno, lápis e gravador acrescentam-se a câmara de vídeo, fotográfica, os softwares de edição áudio e imagem. O conhecimento tem de ser mais amplo e a polivalência é a nova palavra de ordem. “É preciso mais criatividade, mais meios. Temos todas as armas para contar melhor uma história. Para isso é necessário ter formação, aprendermos e estarmos constantemente a evoluir”, explica a jornalista Ana Isabel Pereira, do Porto 24.

O futuro do jornalismo tornou-se uma equação de resultado imprevisível. A profissão, o modelo de negócio, as ferramentas e os novos atores do espaço mediático lançam cada vez mais interrogações. Se em dez anos a mudança foi tanta, o que nos esperam os próximos dez?