“O papel tradicional do jornalismo como quarto poder está a desaparecer mas isto será, possivelmente, consequência do modelo de negócio”, diz António Granado. Para o professor universitário e investigador, o jornalismo tradicional de grande escala dirigido às massas está condenado.
Vanessa Rodrigues
Professora universitária (Universidade Lusófona)
Charles Homan
Editor executivo do The Atavist
Travis Fox
Jornalista e produtor de vídeo
Manuel Molinos
Editor-executivo-adjunto do Jornal de Notícias
Hélder Bastos
Professor universitário (Universidade do Porto)
Como refere, o futuro acompanhará as necessidades das audiências: “Vamos ver surgir vários projetos independentes, mais pequenos, que apostam numa informação mais de nicho, mais especializada”.
A revolução digital
A revolução digital diminuiu as fronteiras entre países e sociedades mas, apesar da proliferação de informação, o público procura cada vez mais uma informação personalizada. A proximidade da informação é, para a jornalista do Porto24 Ana Isabel Pereira, peça fundamental para o consumo informativo do futuro: “Mesmo os jornais globais que estão na Internet e que chegam a um português que está em Macau, na Rússia ou nos Estados Unidos, têm de ter uma informação de proximidade que interesse às pessoas e, por vezes, atender a pedidos de reportagens especiais ou dúvidas que os leitores colocam”.
Até porque, como alerta Vera Moutinho, não se podem perder de vista o comportamento e os interesses dos consumidores: “Eles é que nos levam para a frente!”.
Para a jornalista do Público, serão também tempos de grande melhoria do produto informativo para quem consome: “É algo que vai continuar a crescer muito e a melhorar, permitindo um acesso dos cidadãos a informação que, de outra maneira, não teriam acesso ou tirar conclusões mais facilmente porque poderemos representar milhares de dados com tratamento jornalístico”.
O jornalista com cada vez mais meios
As ferramentas ao dispor dos jornalistas são cada vez mais e as hipóteses de narrativa multiplicam-se. Tudo para o enriquecimento das histórias. “Era necessário haver uma forma de atualização de escrever para o jornalismo online o que permite fazer um trabalho mais contextualizado porque se eu estou a falar do conflito sírio, posso fazer remissão de links ou agregar conteúdos que já foram publicados sobre aquela matéria”, considera Vanessa Rodrigues.
O “novo” jornalismo
A professora universitária vê o futuro do jornalismo como uma fusão entre duas linguagens: a documental e a jornalística. Esta é uma das diferentes abordagens jornalísticas que têm sido exploradas no mercado, nomeadamente, através da produção de webdocumentários. Num tempo em que se multiplicam ferramentas e se transforma a indústria, aparecem projetos inovadores que vêm reinventar o jornalismo, mantendo as bases essenciais mas inovando na forma de contar histórias.
Charles Homans é editor executivo do “The Atavist”, uma plataforma que compila narrativas não ficcionais multimédia. Através do “Creatavist” os jornalistas e os leitores podem criar narrativas adaptadas ao meio online e aos dispositivos móveis. “O nosso modelo assenta na ideia de que as pessoas podem estar interessadas em histórias individuais tanto quanto estão interessadas na revista como um todo” e algumas das histórias publicadas no “The Atavist” ultrapassam as dezenas de milhares de downloads.
O norte-americano considera estes são tempos excitantes e prevê que, num futuro próximo, apareçam mais start-up’s a inovar na forma de produzir jornalismo. Já Travis Fox, jornalista e produtor de vídeo da Frontline, vê o futuro mais centrado na imagem: “O vídeo está cada vez mais em voga, não importa qual o tipo de publicação”, diz.
O americano já venceu um emmy e considera que as maiores transformações dar-se-ão na televisão, nomeadamente na difusão.
Os ecrãs saltaram dos centros da sala para os bolsos e os dispositivos móveis assumem-se cada vez mais como os principais meios de acesso à informação. É por isso que na opinião de Manuel Molinos, jornalista do Jornal de Notícias, a chave para o futuro esteja aqui.
“É quase cultural não estarmos preparados para pagar conteúdos no computador. Estamos habituados a navegar gratuitamente e a aceder aos conteúdos de uma forma livre, rápida e espontânea. Nos dispositivos móveis o utilizador achará mais natural pagar 70 cêntimos uma aplicação do que pagar a assinatura de um jornal”.
“Arranjar-se outras formas de financiamento mais audazes e radicais e que façam depender menos o jornalismo e o ciberjornalismo dos anunciantes, o que permite outra folga, outra qualidade e outra independência, que é muito importante”, este é o mote deixado por Hélder Bastos.
A importância da formação
Com tantas mudanças operadas no mundo jornalístico, as redações ressentiram-se e não souberam acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos. Ao jornalista do futuro, pede-se uma capacidade de adaptação às novas ferramentas e plataformas. Por isso, Filipe Caetano defende uma aposta clara na formação, mas não só na escola.
A formação
“Alguns jornalistas estão atentos a isso e tentam encontrar sempre novas formas de se atualizarem, mas não existe incrustada essa ideia nas empresas e acho que isso também tem de ser um esforço dos próprios profissionais para mostrar que é importante que os jornalistas voltem a aprender e aprendam coisas novas”.
Dez anos são muito tempo e no jornalismo os últimos foram uma eternidade. Mudaram-se hábitos, mas mantiveram-se as vontades. Quem consome, quer informação com qualidade. Quem produz, quer fazê-lo com originalidade e rigor. O futuro é incerto e os pontos de interrogação multiplicam-se. Mas, fiel à sua essência, o jornalismo está vivo para procurar as respostas.