Iniciativa da Associação de Alunos de Engenharia Industrial e Gestão da Faculdade de Engenharia da UP (AGE-i-FEUP), a conferência “Porto 4D”, que aconteceu ontem no Auditório da FEUP, decorreu num tom informal e até com algum sentido de humor.

Com temas centrais como a Indústria, a Educação, a Saúde e a Inovação, a conferência contou com a presença de quatro oradores para representar cada dimensão.

Carlos Moreira da Silva, atual chairman da empresa BA Vidro, interveio no âmbito da Indústria. José Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto, abordou a temática da Educação. Na Saúde, o tema esteve a cargo do presidente do Conselho de Administração do Hospital São João, António Lobo Ferreira. E por último, Jorge Gonçalves, diretor da UPTEC e vice-reitor da UP, tratou o tema da Inovação.

“Na Indústria, o exame é todos os dias”

Para começar a sua intervenção, Carlos Moreira da Silva começou por fazer uma apresentação da BA Vidro, empresa de referência que atua na indústria de alimentação e bebidas. O atual chairman demonstrou de forma clara a visão da firma: “Ser o melhor entre os melhores”.

Relativamente à dimensão para a qual se propôs debater, a Indústria, o líder da BA Vidro considera que existe uma relação evidente entre esta com o Estado e a Educação.

Para Carlos Moreira da Silva, os baixos índices de escolaridade e de formação profissional são um fator preocupante. O convidado referiu que Portugal deve apostar numa formação permanente. “É importante manter a formação depois da faculdade. Ninguém pode estar confortável porque amanhã há alguém melhor do que nós”.

Do lado da Indústria, Carlos afirma que é essencial a preparação de cidadãos competentes, preparados para aprender e capazes de inovar. O convidado referiu mesmo que “enquanto que na faculdade todos sabem qual é o exame, quando é e qual é a matéria, na indústria o exame é todos os dias e não se sabe do que se trata”.

Por último, o líder afirma que cabe ao Estado a promoção de incentivos para que a economia portuguesa se possa guiar no sentido certo. Mas também a Europa tem esse papel. “Espero que as instituições europeias e os governos sejam capazes de confirmar o objetivo para um renascimento industrial”.

“O meu trabalho era desassossegar as pessoas”

Já o reitor da Universidade do Porto (UP) fez uma breve apresentação do seu percurso profissional. O facto de ter emigrado para Manchester fez com que seja “um defensor acérrimo de que todo o estudante devia estar, pelo menos, seis meses fora”.

Para José Marques dos Santos, é importante que uma pessoa seja capaz de fazer coisas novas e nunca estar parada. “Enquanto diretor de faculdade, o meu trabalho era desassossegar as pessoas e nunca as deixar acomodadas. Isso custou-me algumas críticas porque exigia trabalho de mais e era demasiado rigoroso mas a verdade é que toda a gente começou a entrar neste espírito”.

O reitor deixou ainda uma crítica, pois considera que, na gestão universitária, as decisões são tomadas de forma demasiado coletivista.

Quanto à relação destas quatro dimensões, o reitor afirma que educação e inovação devem andar de mãos dadas. Mas também a indústria e a saúde têm um papel fundamental, pois é através desta parceria que “existem os estágios, os trabalhos de investigação e o contacto do estudante com aquilo que vai ser o seu futuro profissional”.

“Em Portugal não tratamos da saúde, atiramos dinheiro para cima da doença”

António Lobo Ferreira teceu duras críticas à saúde em Portugal e à insustentabilidade dos hospitais. O presidente do Conselho de Administração do Hospital São João considera que o investimento é gasto de uma forma ineficiente. Como o próprio afirmou, “em Portugal não tratamos da saúde. Atiramos dinheiro para cima da doença e desperdiçamos esse dinheiro”.

O presidente criticou ainda o comportamento dos trabalhadores dos hospitais, considerando que existem três tipos de pessoas: os que “não querem nem podem”, os que “podem mas não querem” e, por fim, os que “querem e podem”. Para António Lobo Ferreira, o que se passa nos hospitais públicos é “um disparate total”.

A pergunta que se colocou durante esta discussão foi como é que a saúde poderá conseguir proveitos sem depender do financiamento do Estado. A resposta passa por várias áreas que, segundo o presidente do Conselho de Administração, “parecem não estar relacionadas com o hospital mas estão”. Uma dessas áreas, na qual o centro hospitalar de São João está a apostar, é a área das tecnologias da informação.

António Lobo Ferreira criticou ainda o facto de tudo ter de passar pelo concurso público. “É a forma mais perfeita de se comprar espantosamente caro e de se sustentar a corrupção mais elaborada”, garante.

A iniciativa de ter recém-licenciados, da Faculdade de Economia da UP e da Universidade do Minho, a trabalhar no São João foi, para este convidado, algo que trouxe consequências muito positivas e só lamenta que alguns já tenham saído. “Não imaginam como as coisas mudaram. Chegou lá um grupo de jovens que não sabia de nada, entraram por ali dentro e os processos começaram a mudar. Desses já saíram 12 porque nós não temos nenhuma capacidade de os manter e de os atrair”, lamenta.

“O fator sucesso é o indivíduo que acredita na ideia”

Para debater a temática da Inovação, não podia ser melhor exemplo o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). Jorge Gonçalves, vice-reitor da UP e diretor do projeto, acredita que este é um caso de sucesso. “O UPTEC destina-se a criar o espaço e as condições necessárias para vocês construírem o vosso destino, poderem criar as vossas oportunidades e não dependerem só da sorte”, disse o vice-reitor aos estudantes presentes na conferência.

O diretor mostrou que o projeto continua a crescer e que prova disso é o papel das empresas do UPTEC que, por ano, contribuem para o PIB em cerca de 32 milhões de euros. Para além disso, o projeto não se limita apenas ao contexto nacional. Como afirmou o vice-reitor, “estão a instalar-se na UPTEC start-ups de Berlim, da Holanda e dos Estados Unidos”.

No final, ficou o conselho para os estudantes da Universidade do Porto não se conformarem e não se acomodarem durante a próxima fase das suas vidas. Inovar foi a palavra de ordem. “O fator sucesso é o indivíduo que acredita na ideia”, disse Jorge Gonçalves.