Patrícia Costa tem 27 anos e uma das suas paixões é a Educação de Infância. Quando terminou a licenciatura, foi educadora durante um breve período de tempo, mas a crise económica não ajudou. O ordenado era baixo e as condições de trabalho não eram as melhores, pelo que Patrícia decidiu dar um novo rumo à sua vida.

Juntamente com o namorado, Tiago Vieira, que ainda hoje exerce a sua profissão, de médico, o casal decidiu apostar naquela que era a arte mais tradicional da região onde vivem: o bordado da Terra do Sousa.

Embora tenha começado na blogosfera, o sucesso da HEARTS foi tanto que a ideia evoluiu para um site. “Primeiro criámos um blogue onde expúnhamos os bordados que as nossas mães faziam. Começámos a perceber que as pessoas nos contactavam e, à medida que vimos que o projeto tinha pés para andar, criámos a empresa”, diz Tiago.

É que este negócio não podia ter uma ligação mais familiar. Bisnetos de bordadeiras, a arte foi passando de geração em geração na família de ambos. “Eu lembro-me de, quando era criança, brincar ao lado das minhas avós enquanto elas bordavam. Com a minha mãe acontecia a mesma coisa. A minha irmã aprendeu a bordar aos três anos de idade e ainda hoje nos apoia no design de produção. Faz parte da nossa tradição”, afirma Tiago.

Apostar na internacionalização

Uma grande ajuda para a projeção deste projeto foi a integração numa incubadora de empresas de Braga: a BICMinho. Apoiada por esta incubadora, a HEARTS foi vencedora do programa de internacionalização, no âmbito do quadro de apoios do QREN, e terá, durante este ano, mas também em 2015, a oportunidade de participar em feiras internacionais.

Os destinos já confirmados são o Dubai, Reino Unido, Singapura, Japão, Suíça e Estados Unidos. Os principais objetivos são não só dar a conhecer a empresa mas também estabelecer eventuais parcerias.

Na Lixa, concelho de Felgueiras, o negócio conta ainda com uma loja. Embora um dos objetivos seja a mostra e a venda dos bordados, esta serve principalmente como ateliê de produção. Na verdade, a maioria das vendas são feitas através da Internet e isto acontece porque a principal procura vem de fora. “Neste momento, exportamos sobretudo para França, Suíça, Estados Unidos e Austrália”, conta Patrícia ao JPN.

Com a colaboração de cinco bordadeiras, Patrícia afirma que o objetivo da empresa, a curto e a longo prazo, é contratar mais pessoas que saibam desta arte. “Não nos podemos esquecer da nossa responsabilidade social. Queremos dar emprego a mais pessoas da nossa região”.

Outra vertente a que a HEARTS dá especial importância é a proteção ambiental. “O respeito pelo ambiente está enraizado na nossa atividade, pelo que apenas utilizamos matérias primas que obedeçam a critérios ecológicos exigentes como o linho, o algodão e a seda“, sublinha Patrícia.

Mas não só. Também Tiago, de 30 anos, reconhece que a HEARTS é mais do que um simples negócio. “Este projeto não é apenas para gerar riqueza, mas é sim um projeto de futuro. Cada vez há menos bordadeiras e, portanto, a nossa ideia é fazer com que esta tradição se mantenha. Para que um dia, quando formos da idade dos nossos pais, existam pessoas capazes de continuar a dinamizar esta arte”.

Peças com valor acrescentado

Relativamente às peças, Patrícia acredita que o produto tem um valor acrescentado. “As pessoas dão valor a estas peças porque são pessoais e personalizadas. São peças únicas e que demoram muito tempo a ser feitas”. Por exemplo, uma toalha de mesa pode demorar cerca de um mês a ser feita e pode atingir um custo de mil euros ou superior.

Para além do bordado típico, o casal decidiu apostar em peças que aliassem o tradicional ao moderno e “essa é a grande diferença”, diz Tiago. A aplicação do bordado é muito abrangente e pode ser feita em roupa, artigos para bebé e para o lar, ou até mesmo peças de arte.

Por tudo isto, o casal vai dividir a marca em duas distintas: uma mais ligada aos têxteis lar, no segmento de artigos de luxo, e outra mais dedicada aos acessórios de moda. E, além da internacionalização (ver caixa), o projeto passa também pelo território nacional. “Claro que queremos internacionalizar e tornar a nossa marca mais global, mas não queremos descurar o mercado interno”, relembra Tiago.

No futuro, o casal quer integrar na empresa uma área de formação. “Quem borda é um artista e nós queremos mostrar aos jovens que é possível viver desta arte”, afirma Patrícia.