A Replicantes encontra-se ainda numa fase embrionária, mas ameaça já grande atividade. Em junho trará um ciclo de cinema dedicado ao futebol (ver caixa) e, até ao fim do ano, espera organizar mais dois festivais de cinema na cidade do Porto – embora quanto a estes não se comprometa com datas nem temas.
Mas qual é o propósito desta nova associação pelo cinema, então? Ricardo Clara aponta a Replicantes como “uma associação que, embora portuense, não é direcionada exclusivamente à cidade do Porto”. Reconhece, contudo, que a extensão de atividade ao grande Porto ainda estará pendente de estágios prévios. O Porto será o epicentro, então, pois Clara julga haver “uma necessidade de acompanhar o crescimento da cidade em alguns pontos fulcrais, de acompanhar a capacidade que a nova Câmara do Porto teve em trazer novos projetos e novas ideias à cidade – não tem havido um movimento correspondente na área do cinema”.
Quanto à curadoria dos ciclos, Nóbrega aponta para a promoção de catálogos mais desconhecidos ou difíceis de encontrar, obras que não estejam facilmente disponíveis mesmo “nos circuitos ilegais de obtenção de filmes, como torrents“. Consideram que a paixão e experiência angariada no domínio da cinefilia pelos membros fundadores lhes dá uma maior facilidade na procura de registos merecedores de atenção.
“Kick-Off” em julho
O primeiro evento da Replicantes, ainda sem locais alinhavados, debruçar-se-à sobre os pontos de encontro entre o cinema e o futebol. Para além da oportunidade temática com a Copa do Brasil, o objetivo deste ciclo é também “desmistificar aquela ideia que os agentes que integram o panorama futebolístico são pessoas que não teriam interesses para além desse desporto”.
O ciclo, ainda sem local e data exata, para além de cinema (ficção e documental) dedicado ao futebol procurará, também, trazer convidados ligados ao mundo do desporto rei, “desde o roupeiro até ao dirigente”, para mostrarem a visão particular do overlap entre estas duas áreas.
“Não somos uma associação anti-Fantasporto”
Os dez membros fundadores da Replicantes constituem uma base diversa, mas três nomes tornam este novo projeto indissociável das fraturas recentes na empresa Cinema Novo: António Reis, Ricardo Clara e César Nóbrega. Corria setembro do ano de 2013 quando um artigo extensivo da revista Visão apontava para abusos de poder e desvios de fundos por parte de Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco. Nessa altura, já César Nóbrega havia saído da Cinema Novo e, em outubro seguinte, António Reis e Ricardo Clara foram afastados dos corpos gerentes numa assembleia geral daquela organização.
António Reis e Ricardo Clara consideraram, na altura, apresentar uma queixa-crime contra Mário Dorminsky por difamação, mas segundo Ricardo Clara nunca chegaram a dar seguimento ao processo: “Quando saímos da Cinema Novo reservamo-nos ao direito de agirmos judicialmente se assim o considerássemos. Ainda estamos assim neste momento, mas, para mim, o vínculo com aquela organização acabou quando me despedi”.
Os fundadores da Replicantes reconhecem que a associação com a saída da Cinema Novo, apesar de compreensível, é “injusta para com os outros membros fundadores que nada têm a ver com o Fantasporto”, acrecenta Nóbrega. “O Fantasporto é uma casa muito querida. Talvez o modo como esteja a ser dirigido para mim não seja querido. Mas independentemente disso, o Fantasporto continua a ser um projeto extraordinário como sempre o foi desde a sua criação”, remata Ricardo Clara.