Filipa Leal, Pedro Lamares, Fernando Luís Sampaio e António Mega Ferreira deram voz, na última Quintas de Leitura, a um conjunto de poemas escolhidos a dedo pelo escritor e jornalista português, que viajaram entre o surrealismo e o realismo, numa noite de comemorações à poesia.

“Falta por aqui uma grande razão”, primeiro verso do poema de Mário Cesariny com o mesmo nome, era o título da sessão, mas, no final, não faltou uma só palavra. As palavras de Camilo Pessanha, Al Berto, Herberto Hélder, Sophia de Mello Breyner, Álvaro de Campos, Mário Cesariny, Vitorino Nemésio e Jorge de Sena fluíram pelo salão intervaladas pela música expressiva e intensa que Filipe Pinto-Ribeiro roubava ao piano de cauda. Na tela, projetadas, estavam as pinturas de João Queiroz. Nada foi deixado ao acaso.

Ao anfiteatro, cheio e recetivo, foi pedido que não aplaudissem até ao final da primeira parte. E a audiência, atenta e obediente, foi controlando a vontade, experimentando aquilo que Samuel Úria chamou, minutos depois, o “lado tântrico do aplauso”.

“Depois do Burlesco vem o Burgesso”

Plumas, luzes bruxuleantes e som das gaivotas não faltaram numa performance de dança burlesca desempenhada por Miss Tea, no início da segunda parte. Não menos poético, o momento de sensualidade e ritmo criou a ponte entre o tom clássico do piano de cauda da primeira parte e a vibração moderna da guitarra elétrica de Samuel Úria.

“Teimoso” e “Não arrastes o meu caixão” foram duas das músicas trauteadas pelo público na noite que o cantor disse ser tão literal que fez seguir ao burlesco o “burgesso”.

O espetáculo, terminado já na madrugada do dia Internacional da Poesia, promete sequelas nas celebrações do Dia Mundial do Teatro, com a edição de Quintas de Leitura: “Pedro Tochas – Um tempo”, de programação dupla nos dias 27 e 28 de março.