Cerca de 32 mil estudantes, repartidos por 14 faculdades e mais de 630 cursos. São estes os números da Universidade do Porto (UP) no ano em que celebra os seus 103 anos de existência. Pelo nono ano consecutivo, a UP distinguiu, no Dia da Universidade, 21 de março, os seus melhores estudantes, através do “Prémio Incentivo” (ver caixa).

O que é o “Prémio Incentivo”?

O “Prémio Incentivo” é a forma que a Universidade do Porto encontra para motivar os seus estudantes desde o primeiro ano de matrícula. Instituído a janeiro de 2005, os premiados são os alunos que completaram o primeiro ano com as melhores médias ponderadas. Como prémio, recebem um diploma e uma quantia monetária no valor da propina anual.

Alberto Arteiro foi um dos vencedores em 2013. Com uma média de 16,93 valores, o então caloiro do curso de Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) dava os seus primeiros passos na universidade. “Sinto, de ano para ano, que foi uma opção bem tomada e que está a revelar o que de melhor eu podia desenvolver”.

Hoje, no ramo de Escultura, frequenta o terceiro de quatro anos da licenciatura e a média continua a subir. “Não como uma obrigação ou com a necessidade de parecer bem ou tirar boas notas, mas sim quase como uma necessidade física de trabalhar, mostrar capacidades e não me sentir inútil”. O prémio, esse, “foi um incentivo para continuar e perceber que as pessoas têm consciência do trabalho que anda a ser feito, que vale a pena investir numa boa formação e que o ensino académico pode ser uma boa valia para o nosso futuro”, explica Alberto.

O estudante, que em tempos não era fã de Bolonha, admite que foi mudando a opinião sobre “o modo como as disciplinas começaram a ser dadas, de uma forma muito geral”. Em relação à entrada no mercado de trabalho, Alberto admite que não gosta de “fazer grandes planos futuros”, mas que, “com persistência e gosto no que se faz, as coisas vão-se fazendo”.

“Uma pessoa vai percebendo o que é a vida universitária”

Rita Lima, agora no terceiro ano de Ciências da Nutrição na Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação (FCNAUP), subiu um valor à média de 16,9 valores com que terminou o primeiro ano. “Uma pessoa vai percebendo o que é a vida universitária”, explica, enquanto descreve a universidade como um local “que exige muito mais trabalho”, onde se está mais por conta própria e é preciso “aprender a ter prioridades” e que, por isso, “prepara para a vida e o trabalho que vem a seguir”.

Sobre Bolonha, tal como Alberto, Rita era uma crítica do modelo. “Se calhar preferia que fosse uma licenciatura de três anos e completar com um mestrado integrado, por exemplo. Acho que havia disciplinas que podiam ser facilmente divididas, porque damos muita matéria numa só, e assim fazer facilmente mais um ano”, diz.

Em relação à Universidade do Porto, destaca o “espírito de companheirismo” entre faculdades. “A única crítica que ouvi [sobre a UP] foi de uma amiga minha que pediu transferência de Vila Real para veterinária no ICBAS e que achou que aqui era tudo muito mais teórico do que prático”.

A média não basta

Apesar de considerarem que “a média ajuda sempre”, é opinião consensual a necessidade de aliar um bom percurso académico com outras atividades e conhecimentos. Rita Lima, estudante de Ciências da Nutrição, foi uma das várias estudantes que participou nos rastreios da VII Semana da Saúde e do Desporto, organizada pela Federação Académica do Porto (FAP), que decorreu entre 17 e 21 de março. “Este ano consegui ir e gostei muito, dá para contactar com as pessoas, para ajudá-los, ouvir as pessoas, que muitas vezes é o que elas precisam”.

Por outro lado, João Santos, do curso de Matemática da FCUP, afirma que “há uma evolução” nas atividades organizadas pela Universidade do Porto, destacando a Mostra da UP, a iniciar-se a 27 de março.

“Cada vez que abria uma porta, via mais dez, vinte, todas por abrir e explorar novos caminhos”

Apesar deste companheirismo entre faculdades de que fala Rita, a visão não é partilhada por todos. “Na área de matemática, em concreto, não há muitos programas que promovam a troca de experiências entre alunos de matemática e outras faculdades”, explica Manuel Martins, aluno finalista do curso de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Manuel é também um dos antigos vencedores do “Prémio Incentivo”, em 2013, com uma média de 18,88 valores. Na matemática que encontrou no curso “não imaginava que pudessem existir tantos tópicos de interesse. Cada vez que abria uma porta, via mais dez, vinte portas, todas por abrir e explorar novos caminhos”, explica.

Com a crise económica a vir para ficar são cada vez mais as dúvidas que pairam no futuro dos estudantes finalistas. João Santos é colega de Manuel no curso de Matemática e foi o melhor aluno do primeiro ano de todos os cursos da Universidade do Porto em 2011-2012, com 19,13 valores. A concluir a sua licenciatura, reconhece que “há empenho da universidade em melhorar-se a ela própria”, mas critica a ainda “falta de reputação internacional” dos seus cursos. “A minha ideia, por enquanto, e até por questões financeiras, passa por continuar no Porto, mas, no meu plano de estudos, penso também eventualmente tirar doutoramento e aí já ponho fora de questão continuar em Portugal”, explica.

“Já tinha uma imagem muito positiva da Universidade do Porto”

O mesmo caminho está traçado por Pedro Rocha, antigo vencedor do “Prémio Incentivo” em 2010. “Pretendo efetuar investigação assim que acabar o curso e, embora ache que a investigação em Portugal é muito boa, gostaria de tirar o doutoramento noutro país”, explica, enquanto confessa que o dinheiro do prémio ficou guardado para esse futuro investimento.

O estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) conta que “já tinha uma imagem muito positiva da Universidade do Porto antes de entrar na faculdade”, apesar de partilhar da opinião de Manuel em considerar “que falte coesão entre as várias disciplinas científicas” e que “não faz muito sentido o departamento de matemática estar afastado do departamento de engenharia”, a título de exemplo.

Hoje, Pedro não só está no último ano do seu mestrado integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, como é também monitor na FEUP e acompanha algumas turmas de programação na vertente mais prática. Um convite que surgiu da parte dos professores, motivado pelo seu desempenho académico ao longo dos anos. “Acho que cresci muito enquanto estudante de engenharia. No final destes anos, ganhamos uma perspetiva mais concreta e a interagir mais com o mercado de trabalho, com as ferramentas que um engenheiro utiliza no dia-a-dia. Foi agradável ver essa evolução”, confessa.