Treze de julho de 1930. Esta data pode ser considerada como a que marca a distinção entre o “antes” e o “depois” do desporto rei. Nesse preciso dia de inverno sul-americano, iniciava-se, no Uruguai, a primeira edição do Campeonato do Mundo de Futebol.

Mas para compreender a génese do maior torneio de futebol do planeta há que recuar um pouco mais. Em concreto, ao lançamento da calendarização preliminar dos Jogos Olímpicos de 1932, a realizar em Los Angeles, que não contemplava o futebol. A FIFA tinha assumido a coordenação dos torneios olímpicos de futebol nos Jogos de 1920, 1924 e 1928, mas com esta mudança de panorama, o órgão soberano do futebol mundial viu-se obrigado a encontrar uma solução. O então presidente da FIFA, Jules Rimet, anunciou o planeamento de um campeonato independente das Olimpíadas, aberto a todos os membros da Federação. A proposta foi, naturalmente, aceite.

Seguiu-se o processo de seleção do país organizador. Itália, Suécia, Holanda, Espanha e Uruguai. Este último surgia como favorito, já que detinha o título de campeão olímpico, a proposta de organização previa a construção de um novo estádio e prometeu o pagamento de todas as despesas das campanhas dos participantes. Eventualmente, os outros países retiraram as suas candidaturas e o Uruguai era anunciado como o primeiro organizador oficial do Campeonato Mundial de Futebol.

Dos 19 Mundiais realizados até hoje, este foi o único sem fase de qualificação. Como tal, a FIFA deu a possibilidade a todos os países afiliados de participar, mediante resposta positiva ao convite. Depois de diversos contratempos organizacionais, ficou estabelecido um total de 13 participantes, divididos por quatro grupos: Argentina, Chile, França e México no grupo 1 (o único com quatro seleções); Jugoslávia, Brasil e Bolívia no grupo 2; Uruguai, Roménia e Peru no grupo 3; Estados Unidos, Paraguai e Bélgica no grupo 4.

Factos curiosos

– O França – Argentina, do Grupo 1, começou seis minutos antes da hora prevista;

– Ulises Saucedo, selecionador da Bolívia, arbitrou o Argentina – México;

– Manuel Ferreyra, da Argentina, ausentou-se durante o torneio para fazer um exame de Direito;

– Héctor Castro, que marcou o último golo da final, perdeu a mão direita em criança, infortúnio que não o impediu de ser figura de proa na seleção do Uruguai.

De Laurent a Hector Castro

O primeiro Campeonato do Mundo arrancava simultaneamente em dois estádios distintos, mas na mesma cidade: Montevideu. No estádio Pocitos, a França bateu o México por 4-1 e, no Gran Parque Central, os Estados Unidos venceram a Bélgica por um conclusivo 3-0. Lucien Laurent, francês, inscreveu o seu nome na história do futebol, ao marcar o primeiro golo da história dos campeonatos do Mundo.

A fase de grupos terminou a 22 de julho, com a confirmação da passagem da favorita Argentina às meias finais, ao derrotar o Chile, adversário direto nas contas do apuramento. Além da “albiceleste”, a Jugoslávia, o anfitrião Uruguai e os Estados Unidos carimbaram a presença na fase a eliminar (só passaram os primeiros classificados dos grupos).

O alinhamento das meias finais ditou um confronto entre Argentina e Estados Unidos, sendo que o segundo jogo foi disputado por Uruguai e Jugoslávia. A seleção da casa e a Argentina confirmaram o favoritismo e garantiram os respetivos lugares no Estádio Monumental, no dia da final. Curioso o facto de ambos os jogos terem registado o mesmo resultado: 6-1. O Argentina – Estados Unidos foi disputado sob chuva torrencial e ainda hoje é considerados um dos jogos mais violentos dos Mundiais. Na outra partida, Pedro Cea, lenda uruguaia, fez um hat-trick, desfazendo a vantagem inicial jugoslava. Estava tudo definido para a grande final.

Uma nova era no futebol mundial

Noventa e três mil pessoas encheram o Estádio Centenário de Montevideu, a 30 de julho de 1930. John Langenus, belga, era o árbitro. O Uruguai defendia o orgulho de uma nação em casa, frente a uma Argentina fortíssima, liderada pelo lendário Guillermo Stábile (melhor marcador da prova, com oito golos). Dorado colocou os uruguaios na frente do marcador, quando fez balançar as redes argentinas aos 12 minutos. Peucelle e o inevitável Stábile concretizaram a reviravolta, mas os uruguaios não desistiram e, por intermédio de Pedro Cea, estrela-maior dos anfitriões, empataram o jogo aos 57 minutos. Iriarte e Hector Castro fizeram mais dois e fixaram o resultado final num 4-2 favorável ao Uruguai. A taça ficava em casa.

Os 93 mil que estavam no Centenário vibraram com a vitória da sua seleção. Estava encontrado o campeão inaugural dos Mundiais da FIFA. O torneio foi um sucesso, o ambiente infernal. Tudo se conjugou para a primeira vitória do Uruguai, os “charrúas”, mas, acima de tudo, para o início de uma nova era no futebol mundial.

O onze-tipo do Uruguai: