Em 2004, na terra do galo, um grupo de amigos juntou-se para formar uma banda rock. Hoje em dia, o trabalho deles é universal e chega a países como Austrália, Brasil, Taiwan e Estados Unidos. Nos primeiros tempos, a banda adotou um carácter intervencionista através das suas letras de consciência política mas, com o passar do tempo, rumou por outros caminhos que levaram à afirmação no rock instrumental.

Ao longo dos dez anos de carreira, os Indignu foram sofrendo algumas transformações. Deixaram as palavras e dedicaram-se exclusivamente à melodia. A “banda deixou de ter letra e vocalista porque o som que fazemos instrumentalmente nos preenche suficientemente”, explicam.

Afonso Dorido, Jimmy Moom e Paulo Miranda são os membros que resistem do grupo inicial. Mais tarde, Mateus Nogueira e Graça Carvalho juntaram-se ao grupo barcelense.

Identidade única, influências várias

Segundo Afonso, guitarrista, os Indignu inserem-se, essencialmente, no estilo rock. “Cada vez mais somos abertos a novas influências e a novos instrumentos. Mas eu acho que no fundo [o estilo] é rock instrumental. Fomos caminhando para isso e é o que nos identifica neste momento”, diz.

Post-rock

Post-rock é um conceito utilizado para denominar artistas que, a partir dos anos 90, passaram a unir elementos do rock alternativo com elementos do jazz, da música eletrónica e do rock progressivo. Uma das mais bem sucedidas bandas deste estilo musical é a God is an Astronaut. Quando a banda irlandesa atuou no Hard Club, em outubro de 2013, os Indignu fizeram a primeira parte do concerto. A banda portuguesa volta a encontrar-se com os irlandeses, em abril, no Dunk!Festival.

Catalogados muitas vezes como uma banda de post-rock, o guitarrista afirma que a banda se identifica com este estilo musical, mas rejeita que os Indignu sejam rotulados apenas com este conceito. “Alguns de nós foram ouvindo coisas que muitos catalogam como post-rock, acabando por trazerem isso e o resto da banda ouvir e sentir-se bem a fazer esse tipo de som. Mas nós nunca decidimos «Vamos fazer post-rock!», nunca pensamos nisso. As influências de cada um é que levam ao tipo de som que temos”, conclui Afonso.

Cada elemento tem as suas próprias influências, que acaba por trazer na altura da criação dos temas. “Cada um se inspira em projetos específicos e às vezes até nem te inspiras em coisa nenhuma e és mesmo tu. Porque é que nós não temos também dentro de nós um género? De qualquer das formas, é inegável que há bandas que todos ouvimos e que todos gostamos”, conta Graça Carvalho, violinista.

Odyssea: Ter “o direito e a liberdade de sentir”

“Acho que todos nos temos apercebido que o facto de termos lançado o Odyssea deve ter sido o momento mais marcante”, diz Afonso. “É onde nos estamos a sentir melhor”. A banda não consegue esconder o orgulho que sente neste audiobook, lançado em 2013, com sete temas e muito apreciado pelos críticos musicais. Com ilustrações do artista plástico Mário Vitória, o último álbum da banda trouxe várias surpresas para os seguidores da banda, entre as quais, o primeiro videoclipe.

Os Indignu foram para estúdio e lá, sem planeamento prévio, foram encontrando o caminho certo. Afonso revela como a banda deu vida a este trabalho. “Nós não estávamos satisfeitos com o Fetus in fetu. Achávamos que tínhamos potencial para encarar a música de outra forma. A partir daí não há nada, tu vais para a sala de ensaios e sai. O álbum começou a ganhar forma em estúdio”.

Graça esclarece como o grupo descobriu o caminho para o tema geral do seu último álbum, que acabou por se associar ao cenário de mar. “Não é um álbum conceptual, mas acaba por ser um álbum temático e não há dúvida nenhuma: somos portugueses e não conseguimos esconder essa ligação que temos ao mar. Pode parecer cliché, mas à medida que íamos tocando, íamos sentindo que as coisas estavam a caminhar para aí”.

E quanto ao que os temas do Odyssea transmitem às pessoas? Bem, isso acabará por depender de muitos fatores que determinarão o que vai sentir quando os ouvir. “Consoante o momento em que ouves, o teu estado espírito, se ouves baixo, se ouves alto, todas essas coisas têm influência na percepção que tens da música. Varia de pessoa para pessoa, de momento para momento. O facto de não teres letra permite-te essa permeabilidade. Tens o direito e a liberdade de sentir”, explica a violinista.

A paixão que ainda não é profissão

Dedicação ao projeto Indignu não falta. Amam a música e, no palco, entregam-se de alma e coração. Porém, dez anos depois, a música ainda não é uma profissão e, por isso, trabalham noutras áreas. “Nós não encaramos isto como «depender disto para viver» porque se encarássemos seríamos frustrados e pobres. Preferimos sentir-nos felizes e fazermos aquilo que realmente queremos e que nos apetece. Viver disto, impossível. Mas teres uma coisa que foste tu que criaste é muito giro. É a melhor coisa disto”.

Desta feita, os Indignu aproveitam todas as oportunidades que vão conquistando com o seu trabalho. No dia 18 de abril, atuam no maior palco de post-rock da Europa, o Dunk!Festival, na Bélgica. A banda assume que este “é um ponto alto”, pois há muito que ambicionavam atuar fora do país. “É claramente um momento marcante e estamos muito ansiosos”, admitem.