Das cinco palestras previstas para o painel “Media e Revolução”, apenas duas foram apresentadas na manhã deste sábado, 29 de março, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

De entre seis painéis temáticos, relacionados com o tema da conferência “Portugal, 40 anos de democracia“, o primeiro colóquio expôs a importância da rádio para o 25 de abril de 1974, como o principal meio de comunicação entre os militares e a fonte de informação privilegiada da população.

O papel dos locutores

Não só a própria rádio, mas também os seus profissionais determinaram o desenrolar dos acontecimentos. As conhecidas músicas das senhas da revolução – “E Depois Do Adeus” e “Grândola, Vila Morena” – foram escolhidas por locutores que rejeitaram as opções dos militares.

“O palco da revolução”, assim a descreveu Ana Isabel Reis, docente do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, que traçou o perfil das rádios de então. Num meio relativamente livre do controlo da censura, os militares aliaram-se a duas das rádios mais escutadas na época: a Rádio Clube Português e a Renascença, deixando de parte a Emissora Nacional, de forma a evitar diferentes sugestões políticas.

A rádio permitiu, assim, comandar as operações do golpe de Estado, ao mesmo tempo que acompanhou em direto o avanço dos acontecimentos – uma experiência única, tanto para a população como para os próprios jornalistas, que faziam, sobretudo, reportagens descritivas do dia com os populares que se encontravam nas ruas.

As “mãos lavadas” do jornalismo desportivo

Francisco Pinheiro, investigador da Universidade de Coimbra, trouxe para discussão a posição dos jornais desportivos quanto ao Estado, antes e pós-25 de abril. Saídos da revolução de “mãos lavadas”, como escreveu o jornal “Mundo Desportivo”, estes jornais diziam nunca se ter comprometido com o regime.

Antes da revolução e de forma semelhante às rádios, também os jornais desportivos não tinham de passar pela censura. A partir dos anos 70, quando os jornais começaram a ter em conta a necessidade de gerar lucro, os índices de tiragem do jornal “A Bola”, por exemplo, ultrapassavam os 100 mil exemplares – valores que, hoje em dia, “A Bola” não consegue atingir.

Sobre a tradição associada a países como Portugal de se consumir mais desporto do que nos restantes países europeus, Francisco Pinheiro diz ser mentira. Países como Holanda, Suécia ou Finlândia têm programas desportivos dentro dos mais vistos e, em Inglaterra, as páginas referentes ao desporto são as mais lidas dos jornais.

No final do painel, discutiu-se a falta de financiamento para estudos de investigação, nomeadamente, estudos sobre o jornalismo do século XX, um período que carece de pesquisas sobre a matéria.