"Shelter ByGG" é uma escultura habitável e móvel criada pela artista plástica Gabriela Gomes, em parceria com mais de 20 empresas portuguesas.

Se até agora achava impossível dormir numa escultura, desengane-se. Gabriela Gomes lança o desafio e cria um objeto escultórico habitável, instalado no espaço público. A ideia já tem precedente nos anteriores trabalhos da artista.

“Eu já andava a desenvolver uma série de trabalhos que questionavam se podemos usar as esculturas e se, a partir do momento em que as usamos, a peça deixa de ser uma obra de arte ou não”, conta. A oportunidade de apresentar uma escultura “onde se pudesse dormir lá dentro” surgiu aquando da Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura.

“A ideia [do Shelter] é que não seja uma peça só para exposição, o seu objetivo último é que seja mesmo uma escultura usável”, esclarece Gabriela. O “Shelter” transparece as preocupações com o conforto e a privacidade dos seus utilizadores: composto por um hall de entrada e um quarto duplo com WC integrado, dispõe ainda de isolamento térmico e acústico.

Para além disso, as cortinas e os “círculos de acrílico” permitem fechar as janelas “de modo a poder entrar a luz e não haver visibilidade para dentro”.

Na conceção da peça foram incorporadas também características eco-sustentáveis, nomeadamente na utilização de materiais como a cortiça, bem como na integração de 40 painéis fotovoltaicos e lâmpadas de baixo consumo “para poupar o planeta”.

A experiência de habitar um espaço não convencional

O “Shelter” estreou-se em 2012, na Plataforma das Artes e Criatividade, em Guimarães, e foi lá que Ana Albuquerque o experimentou. “Gostei imenso”, confessa. Para ela, foi uma experiência inovadora em termos de contacto com o espaço: “Não tem o caráter de um hotel, porque a pessoa está sozinha. Não tem quem lhe abra/feche a porta, tem uma chave, vai jantar, entra e sai, e, quando sai, sai de um espaço privado para um espaço completamente público”.

Enquanto espaço de alojamento, “é uma experiência boa de se fazer”, mas “se começasse a ser completamente normal e banalizado, já não tinha tanta graça”, realça Ana.

O primeiro passo da comercialização

Segundo Gabriela Gomes, a peça original não está à venda. Neste momento, está em curso a comercialização de réplicas da obra para o estrangeiro. A primeira réplica seguiu para Córsega no início deste mês e era “exatamente igual [à original], exceto na cor do revestimento”. “Há uma paleta de cores possíveis (…) e se as pessoas quiserem outra cor, eu penso que o projeto não perde a sua essência por causa disso”, afirma.

O projeto é maleável, não só em termos de preferências, mas também em termos de necessidades de cada um. “Como o projeto foi feito de raiz, encaramo-lo como um embrião de um projeto que pode continuar a crescer” e transformar a escultura num escritório ou num quarto de bebé. E aqueles que, por questões financeiras, optarem por não incluir a autonomia energética, também têm essa possibilidade. Assim, o valor base, situado entre os 20 e os 30 mil euros, pode oscilar em função do tamanho, do equipamento ou outras opções pessoais.

Shelter ByGG from Hugo Amaral on Vimeo.