São cada vez menos os estudantes com mais de 30 anos que se aventuram no Ensino Superior. O total de alunos dentro desta faixa etária tem diminuído desde 2009 e a quebra só não é mais acentuada porque continua a haver uma procura estável para os mestrados.

Segundo o jornal PÚBLICO, no caso das licenciaturas regista-se uma perda de mais de 7000 inscritos no período em análise, o que representa quase um terço do total de estudantes adultos que frequentavam o ensino superior em 2009/2010. Entre 2009 e 2014, o número de adultos inscritos nas licenciaturas e mestrados nas universidades e politécnicos desceu de mais de 41 mil para 33 mil alunos.

Ainda assim, estes números contrastam com o panorama internacional, uma vez que, em Espanha, o El País noticiou que a crise está a impulsionar a entrada de estudantes com mais de 30 anos nas universidades. A falta de oportunidades no mercado de trabalho foi a principal razão para um crescimento no valor de 18,4% de estudantes desta faixa etária no ensino superior desde 2007.

Esta é uma tendência em vários países europeus – em particular na Escandinávia – e na América do Norte (EUA e Canadá). De destacar, por exemplo, que, na Finlândia, os estudantes do ensino superior com menos de 20 não representam mais de 1% do total de inscritos e no Brasil, um terço dos estudantes são adultos.

Quando a idade não importa

Rosa Santos tem 44 anos e estuda Educação Básica na Universidade de Trás-os Montes e Alto Douro (UTAD). Ingressou no ensino superior, neste momento, para realizar “um sonho de criança” e pelo desejo de “a nível de carreira, poder subir de categoria”.

Rosa, que trabalha atualmente no Centro Escolar Ilídio Sardoeira, garante que não é díficil conciliar os estudos com esta atividade profissional uma vez que “a Lei prevê umas horas semanais para conciliar o estudo e conseguir ter um dia e a véspera para estudar”. Por lidar diariamente com crianças, a estudante da UTAD refere que também sente necessidade de estudar para poder “proporcionar às crianças melhores conhecimentos”.

Sara Rodrigues tem 42 anos e está, neste momento, no Doutoramento em Ciências da Comunicação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). A estudante considera os estudos fundamentais para se adaptar ao mundo do trabalho, cada vez mais exigente. O desejo de continuar a investigar e evoluir na área pela qual se interessa levou Sara a não ter dúvidas no regresso à vida académica.

As perspetivas para um futuro profissional melhor não são certas, mas a estudante não vê as oportunidades como limitadas: “Não sabemos o que existe aqui para nós, mas sabemos que em algum sítio existe alguma coisa”. A idade pouco importa quando se quer aprender e a adaptação “não é difícil, só é diferente”, conta Sara Rodrigues.

José Ferreira terminou a Licenciatura em Gestão, na Universidade Lusófona do Porto (ULP), em março deste ano. Pela primeira vez na faculdade, apostou neste curso porque “sempre foi um objetivo a conseguir”.

Para além da realização pessoal, também a questão profissional pesou nesta decisão de ingressar num curso do Ensino Superior. Enquanto estudava, nunca deixou de trabalhar mas conseguiu conciliar a vida profissional, académica e pessoal: “Numa situação como a minha, de casado, depende da esposa. No meu caso tive apoio incondicional, o que facilitou”, conclui José.