Apesar de nem sempre ser acessível a todos os bolsos, são cada vez mais as pessoas que se interessam pelo universo da fotografia analógica.
Inês Almeida tem 20 anos e seguiu as pisadas do pai quando começou a fotografar. No início, usava apenas máquinas digitais, mas admite que era algo que não a “encantava”, até ter descoberto a fotografia analógica.
Começou por ouvir falar nas pessoas que usavam lomography e “achava piada aos resultados“. Como era leiga no assunto, Inês comprou uma La Sardina, por ser uma câmara muito fácil de manobrar: “Basicamente, é disparar sem pensar, mudar de rolo e voltar a disparar”. Mas foi a partir do dia em que pediu ao pai as câmaras antigas que Inês nunca mais deixou a fotografia analógica.
“Film Never Dies”
O processo de aprendizagem de Inês Almeida demorou algum tempo. “Gastei muitos rolos para aprender o que era realmente fotografar do jeito que eu gostava, ainda hoje acho que não sei tudo”, conta. É por esta razão que Inês criou uma página no Facebook – “Film Never Dies” -, para esclarecer as dúvidas que tinha, assim como as das outras pessoas que estão ligadas à fotografia analógica ou que querem começar. “Film Never Dies” tem quase 600 membros, mas “há lá muita gente que começou a usar a página por curiosidade ou porque ainda está a apalpar terreno”.
Através da fotografia, Inês começou a dar mais atenção aos pormenores, ganhou um olhar fotográfico e um espírito crítico mais aprofundado. “Aquela ansiedade e a curiosidade de ver os resultados é sempre excitante, a fotografia tornou-me mais feliz”. Apesar de fotografar regularmente, Inês não o faz tantas vezes quanto gostaria, devido aos preços da digitalização e revelação das fotografias, que são elevados.
Situada na Baixa do Porto, a loja “Máquinas de Outros Tempos” vende câmaras analógicas e, muitas vezes, é paragem dos jovens entusiastas deste tipo de fotografia.
“Tenho muitos clientes jovens, aliás, 90% são jovens entre os 16 e 18 anos. Estudantes que precisam de câmaras fotográficas para a faculdade, entusiastas que gostam e querem Polaroids e afins e aqueles entusiastas que querem desde câmaras lomográficas a câmaras analógicas”, revela o responsável da loja.
Gira-discos, dá-me música
Discos, vinis, LPs, cassetes, CDs, DVDs… Ao longo dos anos, a música foi conhecendo vários formatos. E, pelo que parece, os apaixonados pelos discos antigos não são uma “raça extinta”. Não voltaram ao tempo das grafonolas, mas, nos últimos anos, têm sido cada vez mais adeptos do vinil e dos LPs.
Mariana Gonçalves é um desses exemplos. A avó tinha uma coleção considerável de discos de vinil e desde pequenina que Mariana lhe pedia para os pôr a tocar. “Comecei a querer ouvir com regularidade, depois comecei a procurar adquirir os meus próprios discos, a ir a feiras de antiguidades”.
Vinil a preços acessíveis
Obter discos de vinil a bons preços não é fácil, diz Mariana. Por isso mesmo, procura-os nas feiras de antiguidades, onde “sempre fica mais em conta”, apesar de haver riscos. “O disco pode estar com defeito, ou mal gravado, e isso não é visível do exterior”, conta Mariana, que diz que existem sempre riscos quando se compram produtos em segunda mão. “Uma vez comprei um disco e nem era aquele cantor a cantar!”.
Rui Quintela é o proprietário da loja de música Louie Louie Porto. O dono conta que, com o tempo, o vinil começou a ganhar espaço na sua loja e “a verdade é que houve aceitação do público”.
Atualmente, a Louie Louie vende tanto o CD como o vinil. Apesar de os clientes habituais estarem na casa dos 30 anos, Rui admite que existe uma pequena porção de clientes, na casa dos 20, interessados nos produtos de vinil. São clientes fiéis que gostam de comprar os discos“.
Com vontade de continuar a ouvir mais vinil está Mariana. O “vício” é para continuar, sobretudo se encontrar discos interessantes a bons preços. “No outro dia encontrei um disco do elenco original do West Side Story, na Broadway, a cinco euros… Claro que comprei logo!”.
O fascínio pelas capas, cores e texturas
Os livros são, provavelmente, os tesouros mais em conta. Os fãs das edições antigas deliciam-se com “o cheiro, a textura, as cores, o próprio papel”, conta Teresa Soares, vendedora na loja “Alfarrabista José Soares“. “Há pessoas que se encantam com as capas e com o tipo de letra”.
Teresa Soares diz haver muito público jovem. “Vêm primeiro pelos preços, depois pelas publicações que já não existem no mercado”. Fica contente por saber que há pessoas que “se interessam por determinados escritores que não são publicados na atualidade (ou então são publicados a preços exorbitantes)”, e que, por isso, os procuram na sua livraria.
Mariana Neves deixou-se apaixonar pela escrita, sobretudo pelas cartas. Desde pequena que enviava cartas à tia e, com o tempo, foi escrevendo cada vez mais para vários amigos. Acha que uma carta “é uma coisa muito intemporal”. “Muito mais do que um e-mail ou uma mensagem, uma carta é um sítio onde podemos ir”, refere.
A alegria de receber cartas pelo correio acabou por dar uma ideia a Mariana. Há dois anos lançou um desafio na sua conta do Twitter: “Quem é que gostava de receber uma carta minha?”. A vontade de querer incutir nas pessoas “o bichinho” por escrever e receber cartas acabou por dar frutos.
“O espanto é que muita gente me respondeu. Queria que as outras pessoas sentissem o que eu sentia com uma simples carta”. O seu projeto, “Cartas Cruzadas“, conta já com mais de 350 pessoas que a acompanham, algumas delas em países como Austrália, Inglaterra, França e Brasil.