Pelos caminhos e becos do Porto, são muitos os animais que vivem na rua e do que a rua lhes dá. O problema não é novo e as razões também não. As associações não têm mãos, nem quatro patas a medir e tentam todos os dias combater o abandono dos melhores amigos do homem.

A Sociedade Protetora dos Animais é um Porto de abrigo mas ainda não consegue ser um lar. A maior dificuldade desta organização tem sido encontrar um espaço com condições para acolher as centenas de animais que tem a cargo. Com um canil situado atrás do Estádio do Dragão, a Sociedade Protetora ainda não conseguiu fintar os problemas e anda que nem cão e gato com a Câmara de Gondomar: não por causa da casota mas por causa de um terreno.

A eles “ninguém lhes deu bola”

A história é curta mas já dura há vários anos. Quando o Estádio do Futebol Clube do Porto foi construído, a bola deixou de significar brincadeira para os animais da Sociedade Protetora porque para além de perderem o jogo, perderam o lar ainda antes do pontapé de partida. Depois da sua construção, a organização perdeu um teto para os animais e a Câmara do Porto cedeu o espaço do antigo Matadouro Industrial, situado no Largo da Corujeira, para abrigar os animais até arranjarem um novo canil.

Andreia Ribeiro é membro da sociedade e recorda que o órgão não perdeu tempo até encontrar uma nova casa para os amigos de quatro patas: “Nós compramos um terreno em Baguim do Monte, em Gondomar, um terreno de 81 mil metros quadrados, pedimos o licenciamento à Câmara e foi tudo aprovado, tudo licenciado”.

O projeto tinha tudo para correr bem mas acabou por terminar mal: “A Câmara de Gondomar passado uns meses recuou com a palavra e proibiu a construção”, conta. De licença em licença, a porta acabou por se fechar porque “houve um parecer de um engenheiro da faculdade que aconselhou a não construir lá o canil” e como a sociedade não achou correto, colocou “a Câmara de Gondomar em tribunal”.

O julgamento nunca foi feito e os animais já estão na Inquisição

Desde então, já passaram 12 anos e o que era suposto ser uma situação provisória tornou-se na única opção. O julgamento ainda não foi feito mas os animais já estão na inquisição, ao viver no antigo Matadouro Industrial do Porto. Andreia continua preocupada com o bem-estar dos cerca de 750 cães e gatos ao abrigo da Sociedade: “Os animais não vêem a luz do sol, aquele é um sítio tapado, só por aí é complicado”.

Apesar dos tratadores fazerem “os possíveis para se manter as melhores condições”, ainda “não têm capacidade diária para leva-los todos a passear cá fora”. O espaço não serve de aconchego e o nome não inspira confiança. No entanto, apesar de estarem no antigo Matadouro, o destino dos animais não é o abate. “Estão todos para adoção” mas nem todos vão ter um dono porque apesar de haver cães e gatos para todas as idades, “as pessoas preferem um cachorro ou um cão mais novo do que propriamente um animal com cinco, seis, sete anos”, refere Andreia.

Marcha Animal

Desde 2000, a Organização Não Governamental ANIMAL organiza uma marcha anual pela proteção dos animais em Portugal. Este ano, a concentração será no dia 12 de abril, com início no Campo Pequeno, em direção ao Parlamento. A organização espera milhares de participantes de Norte a Sul do país.

Animais de rua

No horizonte e no ouvido, os pombos e as gaivotas. Num virar de rua, um cão. À procura de comida no lixo, um gato. Se os seres com asas encontram aconchego no vento, o mesmo não se pode dizer dos cães e gatos. A maioria destes animais de quatro patas já teve um teto e, em alguns casos, mais do que isso, um lar. Eram animais de estimação. Quando abandonados, tornaram-se animais de rua.

Para Andreia Ribeiro, este é um problema cada vez maior no Porto. “Antigamente notava-se que nas férias de verão e até nas férias de Natal, havia mais abandono. Agora, acho que é todo o ano”.

Esta realidade pode ser explicada, em parte, pelo estado da Economia do país. Por um lado, torna-se mais difícil garantir a alimentação e os devidos cuidados aos animais. Por outro lado, com o aumento da emigração, os animais não constam da bagagem indispensável e ficam para trás.

Com o passar do tempo, estes animais já fazem parte da pintura que fazemos das ruas portuenses, mesmo que esta não seja em tons de cor-de-rosa. O Porto ainda não é o melhor abrigo para os animais de rua. É caso para dizer que “levam uma vida de cão”.