Hoje em dia, podemos encontrar duas realidades distintas: os “experts” das novas tecnologias e aqueles que tentam descodificar o “tecnologês”. Se há quem ache que Android é uma espécie de novo robô, há quem, por outro lado, conheça a tecnologia iOS como a palma da sua mão.

Os adeptos dos gadgets são cada vez mais e Marta Cruz é um desses exemplos. Há dois anos que utiliza o seu telemóvel para navegar pelas redes sociais. O Facebook é uma das aplicações privilegiadas, mas Marta admite ter especial interesse por aplicações relacionadas com a fotografia e edição de imagem.

Um português, um iPhone e a “New Yorker”

O ilustrador português Jorge Colombo criou e inovou a capa da edição do 89.º aniversário da revista norte-americana “New Yorker”. Como é tradição, na capa surge a silhueta de Eustace Tilley, mas esta é a primeira vez que a personagem surge retratada com recurso a uma aplicação de iPhone.

Por trabalhar na área do design, Marta usa estas aplicações por questões de trabalho, mas sobretudo por questões de criatividade. Numa área laboral que atende mais à estética do que o habitual, aplicações como o Instagram e o VSCO funcionam como “canais criativos”. “Principalmente o Instagram”, já que, para além de divulgar os seus trabalhos, “também dá para experimentar”.

O Instagram também é uma das aplicações de eleição de Sara Pimenta. As ‘apps’ de fotografia, o Instagram e o VSCO, e as que usa para comunicar, o Facebook, o Snapchat e o Whatsapp, são aquelas em que costuma “perder mais tempo”. Segue fotógrafos, designers e pessoas “apaixonadas pela arte” que lhe dão a conhecer novas visões “em relação a lugares, objetos ou ações”.

Como Marta, Sara considera-se uma “viciada saudável”, já que diz conseguir passar consideráveis períodos de tempo sem publicar fotografias. “O telemóvel veio ajudar-nos na medida em que podemos estar sempre prontos a captar o momento perfeito”, admite a designer.

Gadget? De Mr. Gadget?”

Usam telemóveis de teclas, não estão nas redes sociais e não fazem ideia de como funcionam os ‘últimos gritos’ da tecnologia. São poucos, mas ainda existem jovens que não se ‘metem por estes caminhos’.

Susana Costa e Diana Santos desconheciam o conceito de “gadget”, até lhes ser dito que os seus telemóveis e até o MP3 são assim designados. Para Susana, o telemóvel é utilizado apenas para enviar SMS e realizar chamadas, “quando necessário”, sublinha. Já o uso do computador é destinado à realização de trabalhos escolares e acesso ao e-mail.

Gadgets invadiram o escritório

Crescentemente, ouvimos falar do fenómeno “BYOD”, sigla para “Bring Your Own Device”, que se refere ao uso de dispositivos eletrónicos pessoais para fins laborais. De acordo com um estudo realizado pela Fortinet Portugal, o BYOD já é uma realidade em grande parte das empresas portuguesas, a par com a restante Europa. Em entrevista ao Diário de Notícias, Hugo Pernicha, da Fortinet Portugal, explica que metade dos jovens quadros usa um dispositivo pessoal para fins laborais, por uma questão de “comodidade, moda e flexibilidade de utilização”. Hugo Pernicha defende que as empresas devem tomar pedidas, de modo a combater perdas de produtividade e a proteger dados confidenciais.

Diana Santos diz com orgulho que já acedeu à Internet no telemóvel e admite que envia até mais SMS do que a amiga. O tempo que despende no computador ocupa-o para realizar trabalhos escolares. Diverte-se também no Paint e em programas de fazer montagens de fotografias. Embora os passatempos possam parecer semelhantes aos de Marta e Sara, as ferramentas que usa não são tão recentes como o Instagram ou o VSCO. Quando quer ouvir música, Diana usa o Youtube e mantêm-se fiel a este site, mesmo quando lhe falam de alternativas como o Spotify.

Apesar de considerarem importante estar a par das tecnologias, Susana e Diana pensam que, por vezes, o seu uso é exagerado. Reconhecem-lhe benefícios, mas não se revêm neste estilo de vida e, por essa razão, também não procuram saber mais sobre o assunto. Como estudantes da Escola Superior de Educação (ESE), apontam até a perda da caligrafia como uma das desvantagens de quem passa demasiado tempo ‘agarrado ao telemóvel’.

“Com peso e medida”

Lúcia Ramalho é psicóloga e dedica-se a lidar com os mais jovens. Na sua opinião, há, efetivamente, uma distinção entre as pessoas que utilizam em demasia as redes sociais e as que as usam estilo ‘q.b.’. A psicóloga considera preocupante quando “a utilização das tecnologias, nomeadamente das redes sociais, tira tempo às relações interpessoais face a face”.

No entanto, garante que as redes sociais também têm vantagens. “Podem ser utilizadas para ter conhecimento de eventos culturais, para arranjar emprego”, entre outras potencialidades. Sara Pimenta partilha da mesma opinião, destacando o papel que estas ferramentas podem ter na procura de emprego. “A Internet possibilita-nos uma exibição do nosso trabalho mais diária e regular. O Facebook, Instagram, Pinterest, Behance e Linkedin já fazem parte de muitos currículos que andam por aí”.

Mesmo Susana e Diana admitem que os gadgets e os inseparáveis widgets podem trazer benefícios a diferentes níveis. Ainda assim, na sua área de estudo e no meio em que se inserem, não se sentem descontextualizadas.

Lúcia Ramalho aconselha a que haja “um equilíbrio e uma gestão do tempo na utilização destas ferramentas”, apesar de compreender que esta gestão não é fácil, principalmente para jovens. É neste ponto que as diferenças se dissipam. Quer “viciadas”, quer “desligadas”, todas defendem que “é importante criar relações e partilhar momentos ‘no momento'”.