Anfiteatro, zonas de divulgação científica, laboratórios experimentais, restauração, turismo, transportes e, claro, cruzeiros. Tudo isto fará parte do novo porto de passageiros de Leixões, que abrirá ao público ainda este ano.

“Será com certeza mais um ex-libris”, caracteriza Brogueira Dias, presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), que justifica a multifuncionalidade do edifício: “Metade do ano há cruzeiros, noutra metade não há”, o que resultou num “casamento fácil” com a Universidade do Porto (UP) para a instalação do Pólo do Mar do UPTEC no novo terminal. “Neste caso concreto, o edifício está em cima do mar. Portanto, mais apropriado e mais próximo não podia ser”, acrescenta. Uma “sequência lógica e natural” que permitirá “uma ocupação permanente do edifício”, com “alguns projetos articulados com necessidades que um porto tem”.

“O edifício integrava-se num objetivo duplo de incrementar a eficácia do porto, e por outro lado dinamizar a ligação com a cidade”, considera o arquiteto Luís Pedro Silva, autor do projeto. “As atividades do porto e da população passaram a estar um bocadinho de costas voltadas”, pelo que o novo terminal tentará reavivar esta relação.

O que irá dar nova vida a Matosinhos e ao Porto são os cerca de “110 a 120 mil cruzeiristas” que “num espaço de 3/5 anos” irão chegar e partir de Leixões, de acordo com Brogueira Dias. No entanto, trata-se de um setor cujos estudos não permitem “uma fiabilidade muito grande”, e que “vai flutuando”, como os números demonstram: “No ano passado fechámos com cerca de 60 escalas, e tivemos cerca de 50 mil passageiros”, mas este ano já estão marcadas “90 escalas, que apontam para valores do dobro do ano passado em termos de passageiros”.

Fixar turistas no Norte

O objetivo da APDL é fazer do porto de Leixões mais do que um local de escalas. Atualmente, “Leixões funciona como um ponto de passagem das grandes rotas do Mediterrâneo e do Báltico”. A construção do novo terminal pretende fixar os passageiros na região durante mais tempo, com os chamados turnarounds.

O novo terminal será “um ponto de intermodalidade na perspetiva mar-terra”, de acordo com o arquiteto Luís Pedro Silva. Há diversos lugares para autocarros, que irão facilitar a realização de excursões organizadas, bem como um serviço de shuttle que fará ligação permanente à cidade. “Ainda na fase de projeto concebemos um sistema que muito gostaríamos que pudesse ser implementado: poder desembarcar do navio e embarcar noutro fluvio-turístico, que faz a ligação do cais até à Ribeira e pode seguir até ao interior do Douro”, acrescenta.

O custo do projeto ronda os 50 milhões de euros, dos quais 20 são para o edifício propriamente dito: “Tudo o restante são outros serviços indispensáveis”, esclarece Brogueira Dias. “Fez-se um novo cais, com 350 metros, com fundos de 10 metros de profundidade, que permitem absorver praticamente toda a frota mundial de navios de cruzeiro”.

As obras sofreram algum atraso, fruto do moroso processo de fundações. “Já havia um atraso quando o edifício sai da lama”, explica Luís Pedro Silva. “Fora isso, a obra, com a complexidade que tem, está dentro do previsto”.

O desafio de projetar no meio do mar

À primeira vista, o novo terminal de passageiros de Leixões destaca-se pela disposição curvilínea. “O molhe, construção centenária, já faz proteção para a baía portuária e já tem desenvolvimento curvilíneo”, e serviu como inspiração para Luís Pedro Silva.

Ampla liberdade criativa

O processo criativo pautou-se sempre por uma simbiose entre arquiteto e cliente. Luís Pedro Silva assegura que a APDL “não condicionou grandemente na perspetiva do que era estritamente arquitetónico, tendo acompanhado e participado no desenvolvimento do projeto”.

Outro fator importante para a conceção do edifício foi a sua localização, cerca de 700 metros mar adentro. Os estragos causados pelo mau tempo no último inverno, um pouco por toda a costa nacional, avivaram o alerta sobre os perigos do mar. “Há salpicos, toda uma atmosfera agressiva, há bastante vento”, descreve. Mas a estrutura adapta-se às condições: “O edifício na sua forma volta-se contra a nortada” e a escolha dos materiais também tem essa preocupação: “isto foi tanto quanto possível levado ao limite para tentar evitar a corrosão”.

E será que o novo edifício se tornará uma referência arquitetónica da região? O autor do projeto não está muito preocupado com isso : “Se vier a ser a ser do agrado das pessoas e servir as funções para as quais for calibrado, melhor”. E apesar de Luís Pedro Silva ser da famosa escola portuense de arquitetura, “o mais importante é sermos muito rigorosos e muito exigentes com a complexidade do exercício que é a arquitetura”.

Brogueira Dias refere que a nova infraestrutura vai “permitir ter as portas abertas dentro do porto, a ter serviços que nunca os teve de uma forma tão clara”, pela “sua articulação com a cidade mais próxima”. Se há vários anos o porto de Leixões se mostrava ao público num dia aberto, agora “passa a haver, todos os dias, porto de Leixões”.