Rodado no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, “3 horas para amar” é um documentário de 54 minutos que surgiu no âmbito da tese de mestrado de Patrícia Nogueira. Ao longo de cerca de oito meses, a realizadora conviveu com quatro reclusas que protagonizam a história sobre a sexualidade e o interregno familiar que as mulheres se veem confrontadas quando estão presas.

A burocracia imposta pelo sistema prisional influenciou a composição do filme. Em vez de entrar e receber o que o espaço tinha para oferecer, Patrícia teve de programar o filme de antemão, para informar em que espaço queria filmar e o que ia fazer com as reclusas, no menor tempo possível.

Apesar dos constrangimentos, Patrícia mostra-se satisfeita: “Ou era assim ou não fazia este filme”, diz. Conseguiu ainda “o equilíbrio entre mostrar que estar preso não é o fim do mundo, mas que é duro do ponto de vista emocional e sentimental”. “É um corte com a sociedade, é quase como se suspendessem a vida delas durante o período que lá estão”, explica.

O filme já foi transmitido em várias cidades portuguesas, venceu o primeiro prémio do Encontros de Cinema de Viana do Castelo e foi selecionado para o Doc Lisboa. Este mês vai ser transmitido no Festival Internacional Cine las Americas, que decorre de 22 a 27.

Jornalismo, documentário e media digitais

Patrícia Nogueira trabalhou como jornalista, é realizadora e frequenta o doutoramento em Media Digitais, da Universidade do Porto (UP) , em conjunto com a Universidade Nova de Lisboa (UNL) e a Universidade do Texas, em Austin. O contacto com a última fez com que procurasse festivais norte-americanos aos quais pudesse concorrer com “3 horas para amar“.

A experiência como jornalista foi fulcral uma vez que aprendeu “a estar com as pessoas, a compreendê-las, a conversar com elas”. A autora considera que a entrevista, por vezes, é vista como um trabalho menor, mas é difícil “que as pessoas deem aquilo que têm de mais íntimo e interior”. “Nem elas próprias têm consciência do que são. Só quando as questionamos e colocamos em determinadas situações é que ficam a pensar”, afirma.

Agora, estuda os comportamentos do utilizador do documentário interativo, “algo em que ainda é tudo muito novo”. Apesar de ser difícil de investigar, Patrícia sente-se parte dos pioneiros nesta área. O nosso país está “a acompanhar a evolução tecnológica”, mas a vantagem é ser “transversal, e poder tornar-se mundial”, diz.