“Um cavalo de Tróia simpático, que entra, mas não é para invadir”. É assim que Nuno Santos descreve um projeto que quer entrar na programação da televisão para ocupar um espaço que já não existe.
Nuno é o coordenador desta Web Tv e Rádio dedicada à cultura mas, em equipa, diz ser só mais um entre muitos. A diferença é que, desde há um ano atrás, tudo o que faz tem a marca TKNT. É um “one man band” que maestra em vários ritmos, desde a literatura à arte contemporânea, design, arquitetura, cinema e música, mas não toca todos os instrumentos. “Já é bom saber carregar no botão do play”, brinca.
O “one man band” não faz tudo sozinho
Nuno já trata da edição mentalmente, quando está frente a frente com o entrevistado. É necessário, no entanto, quem recolha, corte e cole os seus “planos”. João Nuno Soares e Elsa contam as histórias com imagens, mas o facto de andarem de “uma vida para a outra” faz com que os trabalhos tenham um calendário mais limitado.
Este grupo quer agitar as coisas. Não é contra a tecnologia, até porque se serve dela, mas recua até ao ponto onde o tempo não é um entrave, onde é incentivada a capacidade de concentração, onde a televisão era o que já não é.
Ainda que se considere um fanático pela caixa mágica, o também antigo repórter do Câmara Clara nunca pensou entrar no ecrã e pertencer à “feira de vaidades” que diz caraterizar este meio. A rádio sempre foi a sua paixão, mas nunca sintonizou esta frequência. Ficou, no entanto, a certeza que a imagem não é tudo, que a imaginação tem a sua magia e que a criatividade permitida pela TV pode ser aliada à rádio.
O estúdio que não é estúdio
O posto de emissão do grupo está situado no coração da cidade do Porto, na Praça Filipa de Lencastre, mas o sinal chega a todo o país. É num prédio antigo e numa sala de co-working que se fabricam novas ideias e se vira a cassete para mostrar o “lado B das coisas”. O espaço é exclusivo para reuniões e todo o restante trabalho é feito fora de portas e dentro da casa de cada um.
Nasceu, assim, a TKNT, que, mais do que um projeto de divulgação cultural quer chegar às pessoas através de ações de responsabilidade social. Depois de receberem os livros, devolvem-nos a algumas instituições mais carenciadas.
A TKNT ainda não consegue pagar salários por inteiro e, por isso, é preciso fazer muita ginástica para conseguir manter a grelha de programação a funcionar. Números que fazem parte das contas, mas que não são o mais importante quando o principal objetivo é derrubar a ditadura das audiências. A arma desta revolução é o site para “combater o que existe, neste momento, nas televisões que são televisões”.
Coração andante
Porquê passar um vídeo com som nas estações do Metro se ninguém o consegue ouvir? A TKNT tomou consciência deste facto e construiu um vídeo mudo, a preto e branco, onde cruza enredos amorosos com as várias estações de Metro do Porto. A primeira paragem foi “Coração andante”, no Metro da Casa da Música, mas esta televisão promete prosseguir viagem e construir histórias sobre linhas.
Contra a ditadura dos três minutos
“Primeiro estranha-se, depois entranha-se” e, se os primeiros segundos não forem suficientes para manter os leitores na pista, há que manter a curiosidade até chegar ao refrão. A TKNT diz valer a pena.
“Se a partir dos três minutos, as pessoas perdem a paciência, como é que depois vão conseguir ler os jornais, estar concentradas numa aula, ler um livro com tantas páginas?”. É este o desafio que a “Televisão que Não é Televisão” coloca e, se fizer com que dez pessoas ponham de lado o comando da televisão para assistirem a uma emissão em tempo real da TKNT: missão cumprida.
Pode, então, ler-se no site desta “não-televisão” textos com cinco mil ou seis mil caracteres que testam a disponibilidade das pessoas para a cultura. O presente artigo, do JPN, tem mais de quatro mil carateres e, se ainda o está a ler, é o “sim” de que os princípios da TKNT podem dar frutos.