Brahma, Vishnu e Shiva são as três energias fundamentais do hinduísmo. Brahma representa a energia criadora, Vishnu a da manutenção do universo e Shiva a da destruição do que pode ser destruído. Os hindus acreditam no ciclo de nascimento e morte até à eliminação da ignorância e o atingir do conhecimento: o Moksha.

“Uma filosofia de vida”. Para Nalin é assim a sua fé. É uma das cerca de 200 pessoas que compõe a comunidade de hindus no Porto. Um número pouco significativo para aquela que alguns estudos apontam como a religião mais antiga do mundo. As famílias esforçam-se para transmitir os valores aos mais novos, mas escasseiam os rostos mais jovens: “O meu filho costuma perguntar por que é hindu e eu digo que é pela família o ser também. Quando crescer a pessoa deve definir a religião que quer adotar, mas, quando é pequenino, quem escolhe a escola são os pais”.

Diferentes caminhos, o mesmo destino

A Nalin não incomoda que o filho possa ir por outros caminhos. “O hinduísmo não se pode restringir a uma religião só com doutrinas. É uma forma de viver. Não tem que ser praticado todos os dias, porque é uma religião liberal”. Mais do que a devoção religiosa, importa a noção de bem e de querer fazer bem. “Deus é a nossa própria consciência, leva-nos a pensar no que é pecado. Se sua consciência acusa e reprova, então é pecado. A religião devia libertar-nos do medo. Ter medo do castigo ou de ir ao templo ou igreja não é religião”.

Na própria comunidade hindu moram diferentes formas de fazer, de viver. “Dentro dos sábios existe diferenças de opinião e de interpretação. O hinduísmo tem dezenas de seitas, por isso, as pessoas já se escutam, já se entendem, falam e dão a sua opinião”. Quem vive o hinduísmo procura, através dos ensinamentos, conhecer-se. Mas, para quem não pertence à comunidade, o terreno é desconhecido. Ainda assim, muito menos do que há alguns anos.

A universalização do hinduísmo

“Se virmos as últimas décadas, o hinduísmo passou de uma comunidade fechada para muito aberta, com esta globalização, a divulgação, a Internet…”. O hinduísmo deixou de se cingir às terras índicas de onde veio Nalin. Em qualquer parte do mundo multiplicam-se os templos e os símbolos hindus. Nalin tem o seu próprio espaço de devoção no escritório. Mantém a fé por perto e fica a uma porta das suas origens.

A entrada no mundo ocidental

Os emigrantes e a maior facilidade na divulgação da informação trouxeram atividades como o yoga e a meditação para o quotidiano do mundo ocidental. “O hinduísmo vai além da mente e, por isso, é diferente de muitas religiões, principalmente das ocidentais”. A essência é a mesma. “Nenhuma religião ensina coisas mal. Devia-se dar a conhecer o que é que as outras religiões dizem e as pessoas poderem comparar e chegar à conclusão que os valores são os mesmos. Só a forma é diferente”.

A vivência da fé hindu é, essencialmente, pessoal. O ponto central é o indivíduo e a sua própria busca. Daí a multiplicação de interpretações e figuras. Alguns deuses têm muitos braços, outros partes de animais. As formas de fazer diferem no seio da própria comunidade. “A pessoa imagina algo poderoso, então, nesse sentido, pode imaginar tudo o que quer. Deus em forma de elefante, em forma de serpente, até. Não é fixo”.

Absoluta, apenas a crença. “Eu acho que a fé nunca pode ter conflito com nada. O que gera conflito são pessoas que têm preconceitos ou superstições”. Para as dúvidas e incertezas preparam-se os esclarecimentos e as discussões. Mas a maior pergunta de todas fica em aberto à espera de uma resposta. Ou de várias.