No dia em que se festejam os leitores e os autores fomos à procura de obras consagradas à cidade do Porto, para proporcionar ao leitor uma viagem com um livro debaixo do braço. E quem melhor para guiar os leitores pela cidade senão dois autores portuenses?

César Santos Silva e Hélder Pacheco aplicam a sua formação em História para escrever sobre o património cultural do Porto. Estes autores apresentam perspetivas distintas sobre a cidade e proporcionam experiências para um público diversificado. Tal deve-se às diferentes representações que o Porto tem para os autores.

Para César Santos Silva a cidade é misteriosa, “à espera que as pessoas a conheçam, nos seus becos, nas suas ruas, nas suas vielas, no centro histórico, no centro cultural”. Ainda que partilhem o interesse pelo mistério da cidade, Hélder Pacheco procura o “Porto dos afetos, dos sentimentos, das lembranças, das recordações da memória”.

Passeios pelo Porto em livro

O Porto é uma cidade turística com uma grande oferta de visitas guiadas. César Santos Silva inovou este conceito e reuniu o resultado em dois volumes de “Passeios pelo Porto”. O autor cria um percurso “coerente, de nunca mais de duas horas” e tenta levar as pessoas a seguir o passeio, os seus conselhos, “a história de cada uma das ruas, dos edifícios, do Porto”, explica.

Durante o processo de criação dos passeios, Santos Silva concilia o seu conhecimento sobre a cidade com a informação disponibilizada e as histórias dos mais velhos. Mas este esforço traz benefícios: “O que vem nos meus livros não vem em 99% da Internet”. Há uma preocupação em corresponder ao interesse dos leitores que “são cada vez mais exigentes e não querem só saber que aquela igreja é do século XVIII e foi feita pelo arquiteto tal e ponto final, querem saber mais. A experiência diz-me isso”, reforça.

Dia Mundial do Livro

O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor foi criado por iniciativa da UNESCO, em 1995. Desde então que esta data é celebrada anualmente por todo o mundo.

Para além do interesse, César Santos Silva preocupa-se ainda com as características dos seus leitores, procurando atingir um público heterogéneo que abranja desde o mais entendido em História ao leitor comum. “Não quero ser erudito, quero chegar a um público cada vez mais vasto, com uma narrativa correta, jornalística, que agarre a pessoa e que não seja maçadora”, acrescenta o autor.

Cada volume apresenta dez percursos que correspondem a dez freguesias do Porto, e às informações gerais acrescenta fotografias, mapas e um espaço para notas. Mas ainda há um vasto território por explorar e o autor pretende retratá-lo no terceiro volume de “Passeios pelo Porto”, cujo lançamento está previsto para o final deste ano.

O Porto na passagem do tempo

Hélder Pacheco é um especialista na História da cidade do Porto. O seu primeiro livro sobre o Porto foi publicado em 1984 e, desde então, é um processo contínuo: “Estou sempre a encontrar novas razões para escrever sobre o Porto”, explica.

Nos seus livros, o autor procura não se limitar aos arquivos para procurar informação, mas acima de tudo “registar testemunhos sobre a cidade, o seu caráter, a sua identidade, a sua grandeza”, a partir das vivências e da memória das pessoas. Mas também não se descarta a denúncia dos defeitos e das misérias do Porto.

Hélder Pacheco acrescenta um cunho pessoal nas obras que apresenta ao leitor. “Eu procuro imprimir àquilo que escrevo uma visão pessoal, por um lado crítica, por outro lado sem fazer concessões às modas, por outro lado nostálgica, por outro lado saudosa de certos acontecimentos”, esclarece.

Na bibliografia do autor encontram-se obras dedicadas às tradições, como o São João, aos lugares, como a Torre dos Clérigos e o Hospital de Santo António, mas, sobretudo, às histórias em primeira mão de portuenses.

As dezenas de livros do escritor dedicados à cidade do Porto dirigem-se, fundamentalmente, ao leitor comum. Ainda assim, Hélder Pacheco admite que os seus potenciais compradores são os próprios portuenses, “gente que vive ou que está fora da cidade e que se reencontra com ela através dos livros”.

Uma nova forma de viajar?

São muitos os livros que nos convidam a conhecer as cidades pelo mundo fora. O JPN procurou ainda conhecer as perspetivas das editoras sobre a literatura de viagem e a sua viabilidade no mundo editorial.

Segundo Paulo Gonçalves, da Porto Editora, esta “tem uma ligação muito forte às diferentes áreas do conhecimento”, apesar do reduzido investimento em literatura de viagem. O principal critério de seleção é a qualidade, mas “não há muitos Germano Silva, nem, já agora, Luis Sepúlveda”, cujos livros se inscrevem nesse registo, esclarece.

Por outro lado, a Cordão de Leitura, uma editora em expansão, dedica especial atenção à bibliografia portuense. “É algo que nos fascina”, confessa Maria José Veiga, responsável pela editora.

A literatura de viagem não só “abre o apetite para viajar” como o desejo para escrever. “Como hoje em dia é cada vez mais fácil e mais económico viajar, há também uma maior tendência em escrever sobre viagens. É natural e interessante: a capacidade que os outros têm de nos mostrar o que veem, através da escrita”, acrescenta Maria José.