No primeiro dia do X Congresso de Futebol e em debate moderado pelo docente do Instituto Superior da Maia (ISMAI), Nuno Teixeira, foram vários os intervenientes de diversos órgãos de comunicação social a marcar presença: Fernando Santos, do Jornal de Notícias, Tiago Girão, do Porto Canal, Fernando Eurico, da Antena 1, João Ricardo Pateiro, da TSF, Rui Orlando, da Sport TV, Carlos Machado, do jornal O Jogo, Carlos Vara, do jornal A Bola, e Pedro Azevedo, da Rádio Renascença.

Com Nuno Teixeira a lançar o tema “Cariz pedagógico das palavras dos jornalistas” para a mesa, Fernando Santos foi o primeiro a intervir. O jornalista do JN recordou o passado do futebol português e recuou ao tempo em que “os patrocinadores anunciavam os prémios dos jogadores no início do jogo” e os “jornalistas desportivos não tinham carteira profissional”. Santos salientou ainda que “a progressão jornalística significa mais profissionalização e necessidade de especialização”.

E quando não se joga com os pés?

Em resposta a uma pergunta de um elemento da audiência, o painel de convidados considerou que os órgãos de comunicação não dão a importância devida a outras modalidades, porque estas não prendem o interesse do público do mesmo modo que o futebol. Fernando Santos dá o exemplo de Aurora Cunha, que quando ganhou uma medalha foi capa de jornal, algo que resultou numa queda abrupta das vendas da edição desse dia do jornal O Jogo, onde trabalhava na altura.

João Ricardo Pateiro aproveitou a definição de “indústria” atribuída por Fernando Santos ao futebol atual, para falar das suas conhecidas canções. Depois de cantar a música que adaptou para Cristiano Ronaldo, Pateiro admitiu que ter introduzido as canções nos seus relatos foi “um modo muito sui generis de cativar bastante público feminino e crianças a ouvir a narração dos jogos por rádio” e que, “modéstia à parte, as canções deram mediatismo e visibilidade ao relato. Já são uma imagem de marca do relato”. O relatador da TSF referiu também o papel pedagógico que o jornalista deve ter quando relata um jogo, ajudando a interpretar os lances de modo imparcial.

Tiago Girão é da mesma opinião. “Apesar de todos sabermos que o Porto Canal trabalha para um clube, há que manter a noção pedagógica, mesmo que tenhamos consciência de que por vezes falhamos no aspeto da imparcialidade”, reconhece o jornalista. Girão mostrou-se “totalmente a favor da especialização”. O jornalista lembrou o tempo que passou na SIC e disse que “as pessoas que faziam desporto tinham a capacidade de fazer muitas outras coisas”.

A importância da narração do jogo

O relato no serviço público foi um dos assuntos que Fernando Eurico abordou. O jornalista refere que os relatos da Antena 1 têm de “estar ligados a um formalismo que não é tão marcado em outras rádios”. Ainda assim, admite que muitas vezes surge a vontade de inovar e “fazer o que se acha melhor”. “Já sou conhecido como o Che Guevara da rádio”, refere Eurico.

A palavra passou para Rui Orlando, da Sport TV, que salientou a importância da televisão para esclarecer situações durante os jogos. O jornalista, fortemente elogiado pelo painel de convidados da conferência, realçou a capacidade descritiva que um jornalista radiofónico tem de adquirir e a necessidade de se conhecer bem as leis de jogo, de modo a proporcionar a telespectadores e ouvintes uma descrição fiel dos acontecimentos.

O que está “em jogo” no dia 2

Esta foi a conferência dedicada ao jornalismo desportivo na décima edição do Congresso de Futebol ISMAI +10, que decorre no auditório do ISMAI. Nesta quinta-feira, o segundo dia de congresso contará com a participação do presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, vários treinadores da Liga ZON Sagres, Joaquim Evangelista, e encerrará com a intervenção do professor Manuel Sérgio, na conferência “Para um Futebol do futuro”.

O papel atual da imprensa no futebol

Carlos Machado e Carlos Vara abordaram o papel atual da imprensa no futebol, apresentando opiniões algo distintas. Machado considera que as “plataformas digitais tornaram os jornais um pouco ultrapassados” e que “está-se constantemente a matar as manchetes de amanhã”. Já Vara diz que “os jogos de palavras” são um trunfo para a sobrevivência dos jornais e que estes “não estão a morrer”. Quanto à cadência clubística dos jornais desportivos, Carlos Vara julga que é algo que “decorre de associações e ideias antigas”. Carlos Machado não deixou passar a oportunidade para constatar que o papel dos assessores dos clubes mudou muito. O jornalista d’O Jogo diz que, hoje em dia, os assessores funcionam como barreira à publicação de determinadas notícias e não como mediadores, como antes.

Comentadores que estão sempre sujeitos a crítica

As intervenções dos convidados terminaram com Pedro Azevedo, que, à semelhança de outros convidados, falou da importância dos media na imagem que o futebol transpõe para o público. “O cumprimento do código deontológico por parte dos jornalistas e o ‘saber ver e ouvir’ são fatores de grande importância” nesse aspeto. O editor de desporto da Rádio Renascença referiu ainda que a estação onde trabalha é o único órgão do país com comentadores desportivos de nível IV UEFA Pro. Comentadores que estão sempre sujeitos a crítica, pois “pisam o risco do polémico na hora de comentar determinadas decisões ou casos no jogo”.