André Fernandes e Patrícia Silva estão em portas diferentes do Mercado do Bolhão, no Porto, mas em situações de emprego parecidas. Tanto um como outro trabalham em profissões maioritariamente exercidas por pessoas mais velhas.
André, de 26 anos, já está habituado ao barulho das máquinas. E quem entra no Bolhão também o conhece bem. Tornou-se amolador porque ficou desempregado. “Estou a seguir com esta arte. Foi uma fuga à situação atual”, diz. Mas o ofício que agora abraça não lhe é nada estranlho. “Antigamente era um gosto do meu pai. Agora estou cá eu mais o meu irmão”. Lidar com as máquinas foi “uma questão de hábito” e útil para André conseguir ter autonomia financeira. “Tem que dar”, conta com firmeza.
Patrícia acena a quem passa e apregoa o que exibe na sua banca. Vende fruta há três anos, mas o negócio, que passa despercebido a muitos jovens, não lhe foge a ela. “Já estou habituada a isto. Desde que nasci que era só escola e depois vinha para aqui. Passava aqui quase as tardes todas”, partilha, sobre a banca que vem de família. Aos 22 anos, Patrícia tem a certeza que quer “manter viva a tradição”, por ter passado de geração em geração. Primeiro “dos avós para a mãe”, depois, para si. “Geralmente, já me conhecem, por causa da minha mãe”, refere.
As pessoas precisam da arte
André tem tido um feedback muito positivo dos seus clientes. “Dizem para continuar e que é bom. Precisam disto”. O jovem, que ora se entretém a “afiar facas, tesouras”, ora a “consertar guardas-chuva”, reconhece que “já há poucas casas na baixa do Porto” a cumprir a arte antiga. E jovens dedicados à profissão? “Poucos, muito poucos. Só o meu irmão, que é mais velho do que eu dois anos”.
Entusiasmado pelo sucesso que o recuperar do ofício está a ter, André confessa que “gostava de continuar como amolador”. “É uma profissão que, antigamente, era um sustento grande para as famílias”.
Patrícia tem visto o negócio melhorar “um bocadinho”, por causa do “regresso dos turistas”. Além disso, todos a conhecem dentro do Mercado do Bolhão e cumprimentam-na com um “bom dia, filha”. “Dizem sempre para eu continuar e não deixar morrer isto”. E a vontade da jovem também não é essa. “Estou nesta banca porque dou-me muito bem com as clientes. São mais que meras clientes. Já se criaram aqui relações de amizade com quase todas”, afirma. “Principalmente com as mais velhas. Sentem mesmo necessidade disso. E noto que têm muita vontade de desabafar comigo, por eu ser jovem e por dar conselhos e tudo”, acrescenta.
Ciente da aventura em que se meteu, Patrícia acha que os jovens são precisos para “isto não acabar”. Por isso, deixa a promessa: “Nós vamos tentar sempre continuar”.
As vantagens do trabalho em ofícios “apagados”
O que Bruno mais gosta nesta profissão é o facto de “poder trabalhar ao ar livre, sem estar todo o dia preso dentro de quatro paredes” e poder, através do seu trabalho, “embelezar e cuidar dos jardins, que são um prolongamento das casas”. No entanto, nem tudo é um mar de rosas. “Arrancar ervas de joelhos” é a tarefa que menos gosta de fazer e “trabalhar com temperaturas extremas” é uma das maiores dificuldades que, por vezes, tem de suportar. Os jardins que mais gosta de cuidar são “os jardins das casas de luxo”, pois tem a oportunidade de estar em propriedades “grandes e extravagantes, que não se veem, normalmente, no dia-a-dia”, confessa Bruno.
Da escola para os jardins
Bruno Nogueira tem 23 anos e é jardineiro. Quando terminou o nono ano não tinha mais “paciência” para estudar e, por isso, decidiu rumar, desde cedo, para o mercado de trabalho. Nos primeiros tempos as coisas não correram de feição e Bruno não conseguia arranjar trabalho. Após um longo período de procura, surgiu, através de um amigo, a oportunidade de trabalhar como jardineiro.
Apesar de não ter qualquer experiência na área, o jovem arriscou e apresentou o seu interesse à empresa. Duas semanas depois foi chamado e começou como aprendiz na arte da jardinagem. A “adaptação foi boa”, mas o jovem jardineiro admite que habituar-se à rotina do trabalho foi “um pouco complicado”. Porém, a ajuda dos colegas foi fundamental. Os colegas, todos mais velhos, ensinaram-lhe as técnicas e deram-lhe conselhos, que o fizeram “crescer, tanto a nível profissional como a nível pessoal”.
Foi começando pelos “trabalhos mais fáceis, como arrancar ervas e cortar a relva”. Depois de ganhar experiência passa a realizar tarefas mais árduas, como “passar a máquina de fio e manobrar a máquina de sebes”. Ao longo do tempo foi pensando em tirar um curso, onde pudesse aprofundar os seus conhecimentos, mas Nogueira admite não ter “disponibilidade” e faltar “vontade”. Apesar de, no início, ter tido dúvidas em relação a este tipo de trabalho, a verdade é que Bruno acabou por se deixar encantar pelo trabalho na jardinagem e pensa, no futuro, seguir esta arte e criar o seu próprio negócio.