Aos comandos da revolução estava um jovem militar, que havia servido na Guiné, de nome Otelo Saraiva de Carvalho. Otelo preparou o golpe, passo a passo, de forma minuciosa. Olhava a rádio como um dos pontos fundamentais na revolução. Seria o posto de comando de todo o movimento. Otelo encarregou um dos capitães de abril, Costa Martins, de procurar João Paulo Diniz. Como conta Adelino Gomes, “João Paulo Diniz tinha cumprido o serviço militar obrigatório na Guiné. Conhecia, por terem trabalhado no mesmo serviço, o Otelo Saraiva de Carvalho”.

Para Matos Maia, no livro “Aqui Emissora da Liberdade”, João Paulo Diniz desconfiou quando um homem o abordou no sentido de lhe mostrar uns discos trazidos de Israel. Mais estranhou quando este lhe pediu que fosse no carro. Com a porta aberta, um pé fora e outro dentro, ouviu sobre a revolução e só se confortou quando ouviu o nome do seu velho conhecido. Ficou agendado um reencontro, anos depois, para um abraço e um esclarecimento.

Nesse encontro, Otelo e Melo Antunes, dois dos revolucionários, comunicam a intenção de passar “Venham mais Cinco”, de Zeca Afonso, como primeira senha. João Paulo Diniz rejeita e sugere “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, que havia ganho o Festival da Canção daquele ano. A resposta veio de pronto: “Então passas isso às cinco para as onze e mais nada, dizes só ‘Faltam cinco para as onze'”.

A expansão nacional

Mas dessa reunião vieram mais incertezas: “Eles descobrem que o João Paulo Diniz afinal trabalhava nos Associados de Lisboa e percebe que está tudo falhado”, explica Tomáz. A estação Emissores Associados de Lisboa não tinha alcance nacional e essa era uma necessidade urgente. Depois do encontro com João Paulo Diniz, o militar revolucionário Melo Antunes é encarregado de falar com dois jornalistas do “República”, Álvaro Guerra e Almada Contreiras. Este jornal era conhecido por ser um jornal de oposição e o movimento sabia que ia encontrar aceitação no seu interior.

Assim foi, mas Álvaro Guerra teve uma ideia maior. Sugeriu ao movimento revolucionário que entrasse em contacto com Carlos Albino, na altura colaborador do “Limite” E assim foi, no dia seguinte. Iniciava-se a colaboração para o lançamento da segunda senha, na Rádio Renascença, com uma amplitude mais nacional. A simpatia pelas músicas de Zeca Afonso levou a que os militares sugerissem novamente a música “Venham mais cinco”. Albino, desde logo, rejeitou. Estava proibida pela censura. Sugere, depois do sucesso no Coliseu dos Recreios, “Grândola, Vila Morena”.