Adelino Gomes soube da revolução como tantos outros. A palavra, de boca em boca, levou-o até à baixa lisboeta. Seguiu a marcha popular até ao Terreiro do Paço. O movimento militar ainda não era claro, temeu ser um golpe de um general ultra do regime, até que encontrou um amigo que o encorajou a falar com o capitão do movimento. O capitão era Fernando Salgueiro Maia, seu velho conhecido.
Adelino tinha tido, ali, o seu 25 de abril. Impedido de estar na rádio depois de problemas com a censura, começava, naquela altura, a sua liberdade. Reconheceu companheiros do jornal “República”, que lhe emprestaram o gravador e microfone e começou a fazer reportagem da revolução. Gravou mais de sete horas e as bobines multiplicavam-se. Ainda assim, foi a reportagem mais fácil da sua vida: “Bastava-me estar a relatar o que se passava, porque o resultado era sempre bom, era aquilo de que eu gostava. Eu não precisava de acrescentar nada, de pôr um adjetivo!”.
Antes, durante e depois da revolução
– A revolução ouvida
– Dias 22 e 23 de abril – O primeiro contacto
– Dia 24 de abril – Chegava a hora
– Dia 25 de abril
– Dias 26 e 27 de abril – As reportagens emitidas
Nos dias 26 e 27, João Paulo Guerra ajudou Adelino Gomes com a edição das horas de reportagem realizadas no dia da revolução. As quase quatro horas de material editado foram para o ar, mas a emissão acabou interrompida: “Começou a transmitir, passado um bocado interromperam a transmissão, porque as pessoas pensaram que era um contragolpe e a administração da Rádio Renascença acabou por suspender a transmissão das reportagens”. As reportagens acabariam editadas num disco de vinil, numa versão muito mais curta, de pouco mais de 50 minutos.
A rádio foi o veículo da liberdade e os locutores e jornalistas a voz da confirmação. Para Adelino Gomes, jornalismo e liberdade “deve ser um casamento para a vida”. Já João Paulo Guerra guarda uma frase de Salgueiro Maia: “A República ganhou-se através do telégrafo, o 25 de abril ganhou-se através da rádio”. A liberdade, abstrata, usou um meio que não se vê para chegar aonde antes não se conseguira chegar. A liberdade estava no ar e todos a sintonizaram.