Depois de duas edições na Europa, as federações americanas exigiram que o Mundial de 1962 fosse recebido por um país da América do Sul. Numa primeira instância, a Argentina surgiu como única candidata a acolher a competição. Depois, o Chile entrou em cena, e a República Federal da Alemanha foi a concorrente europeia à organização. No início, a candidatura chilena foi olhada como simbólica, mas o Congresso da FIFA que se realizou em Lisboa, a 10 de junho de 1956 ditou algo diferente.

O Chile foi escolhido mas um grande contratempo em 1960 quase fez a UEFA recuar. Um terramoto de 9,5 graus na escala de Richter provocou a morte de mais de cinco mil pessoas e deixou 25% da população sem abrigo. As dúvidas sobre a organização aumentaram mas a FIFA deu um voto de confiança aos chilenos e avançou para a realização.

A frase do Mundial

Carlos Ditborn, presidente do Comité Organizador e da CONMEBOL, na altura da decisão, pronunciou uma frase que ficou para a história e retratou o esforço que o Chile fez para receber o Mundial: “Porque nada tenenos, lo haremos todo” (“porque nada temos, faremos tudo”).

Pelé fora, brilha Garrincha

O Brasil, campeão do mundo em 1958, vinha ao Chile defender o seu título e contava novamente nas suas fileiras com Pelé, o herói do último campeonato. Os campeões iniciaram a prova num jogo frente ao México e venceram por 2-0 com golos de Zagallo e do inevitável Pelé. Mas este foi o único golo do avançado porque, no início do jogo seguinte, uma lesão impediu o jogador do Santos de voltar a disputar um jogo neste torneio.

E com esta lesão surge Garrincha, descrito pelo L’Équipe como “o ponta-direita mais extraordinário que o futebol já conheceu.” O extremo-direito juntamente com Mário Zagallo e Amarildo, substituto de Pelé, seriam as peças fundamentais da Canarinha. O Brasil acabou por empatar o segundo jogo contra a Checoslováquia e na terceira partida precisava de uma vitória frente à Espanha de Helenio Herrera. Os espanhóis entraram a vencer mas Amarildo na segunda parte bisou e levou o Brasil à fase seguinte.

Batalha campal entre Chile e Itália

Foi neste Mundial que se registou um dos jogos mais “duros da história”. Num jogo muito intenso e com muitas picardias, os italianos viram-se reduzidos a 9 homens, sendo que um deles foi expulso por uma falta dura sobre Leonel Sanchez, jogador chileno, como forma de retaliação por este jogador ter dado um murro que partiu o nariz a um italiano. A BBC retrata este jogo como “a mais estúpida, pavorosa, repugnante e deplorável exibição de futebol”. Os chilenos venceram por 2-0.

Neste grupo, a Alemanha Ocidental foi líder e o Chile foi segundo, alcançando assim a fase seguinte. Itália e Suiça ficaram pelo caminho. Nos outros grupos, destaque para a superioridade no grupo 1 de duas seleções do leste da Europa a duas sul-americanas. Jugoslávia e União Soviética eliminaram Uruguai e Colômbia. Apesar da fraca classificação, a Colômbia fica na história deste Mundial por ter estado a vencer por 4-1 a União Soviética e não ter segurado a vantagem. 4-4 foi o resultado final. No grupo 4 foram Hungria e Inglaterra a ultrapassarem Argentina e Bulgária.

O Brasil continuou com o seu “samba”

Na fase a eliminar, o Brasil continuou com as boas exibições e “despachou” a Inglaterra por 3-1 e o Chile por 4-2 com Garrincha a marcar quatro dos sete golos e a estabelecer-se como um dos melhores marcadores da competição. O Brasil estava na final pela segunda vez consecutiva e iria defrontar a Checoslováquia que chegava a uma final 24 anos depois. Os europeus eliminaram a Alemanha por 1-0 e nas “meias” derrotaram a Jugoslávia por 3-1.

As “botas” de Ouro

Foram seis os melhores marcadores deste torneio, todos com quatro golos marcados. Vavá e Garrincha representavam o Brasil nessa lista ao lado do chileno Sanchez, do húngaro Florian Albert, do soviético Ivanov e do jugoslavo Jerkovic.

As duas equipas enfrentaram-se nos grupos e deu empate a zeros, o que mostrava o equilíbrio entre ambas. Os checoslovacos entraram melhores e através de Masopust, jogador que seria eleito o melhor do mundo desse ano, inauguraram o marcador aos 15 minutos. Mas a resposta foi imediata. Dois minutos depois Amarildo igualou e na segunda parte Zico e Vavá “ofereceram” ao povo brasileiro a segunda Copa.

Contudo este Mundial fica manchado pelo caso “Garrincha”. O jogador brasileiro era o melhor da seleção e os canarinhos dependiam muito do que ele fazia. Contudo Garrincha foi expulso por agressão na meia-final contra o Chile. O Brasil contestou e o árbitro foi chamado a depor. Alegou nada ter visto e responsabilizou o seu árbitro auxiliar como responsável. Chamado também a depor, este árbitro nunca apareceu. Como não eram válidas em tribunal fotos ou vídeos, Garrincha foi despenalizado e jogou a final. Meses mais tarde, o árbitro “fugitivo” foi contratado pela Federação Paulista para arbitrar jogos do seu campeonato. No mínimo suspeito, mas o que fica para a história é mais um campeonato do mundo para o Brasil.