Portugal e Espanha partilham mais do que fronteiras. Os dois países têm em comum o investimento em projetos para o futuro do jornalismo. Em território ibérico, os laboratórios de jornalismo são ponto de partida para os estudantes universitários. A 420 quilómetros, o JPN encontra um semelhante. Infoactualidad é o jornal digital da Universidad Complutense de Madrid, no qual os alunos podem formar-se e informar-se.

Maria Luisa Sánchez é professora e diretora do ciberjornal. Para contrariar o dito popular “de Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos”, Maria Sánchez deu a conhecer o Infoactualidad, esperando que o JPN possa aprender com o melhor do ciberjornal madrileno e vice-versa. “Amadureci a ideia com 15 alunos que eu conhecia bem e sabia que podia contar com eles. Reunimos, eu contei a ideia. Pareceu-lhes fantástico. É gente muito envolvida, com muita iniciativa e com vontade de fazer coisas”, conta a antiga jornalista.

A mentora do projeto apresentou o site e explicou a orgânica e rotina de trabalho do ciberjornal, explicando que “não fazia sentido se fosse em papel”. Ao mesmo tempo, procurou conhecer o JPN.

Infoactualidad

O jornal digital Infoactualidad, da Universidad Complutense de Madrid, surgiu em junho de 2011 e começou oficialmente a 31 de outubro de 2012. Atualmente, conta com uma equipapa de 130 pessoas, das quais fazem parte estudantes de Erasmus, como correspondentes.

Laboratórios de jornalismo no seio das faculdades

Helena Lima, professora do curso Ciências da Comunicação, aplaude a troca de experiências. “É sempre muito importante conhecer outras experiências, porque é tudo relativo”. A docente reforçou o valor da presença de Maria Luisa Sánchez no Porto por encontrar semelhanças fortes na realidade com que lida diariamente. “Para mim, acaba por ser semelhante ao nosso JPN, o que nos deixa muito felizes, por estarmos a trabalhar com as mesmas ideias que uma das universidades mais prestigiadas em termos europeus”, refere.

Tanto Helena Lima como Maria Luisa Sánchez concordam com o facto de ser trabalhoso manter um órgão de comunicação social desta natureza. “É um trabalho extra, muito extra. Eu não recebo nada a mais no meu salário pelo trabalho que faço no jornal. Dedico quatro horas por dia e, às vezes, fins-de-semana”, adianta a professora espanhola.

Apesar do esforço, ambas estão cientes da influência destas redações universitárias junto dos estudantes, do público e do jornalismo em geral. “No fundo, é a réplica da realidade. Ninguém vai trabalhar para uma redação a pensar que entra às 09h e sai às 17h. É uma profissão que se acarinha”, diz Helena Lima.

Jornalismo em espanhol é periodismo

Maria Sánchez considera importante um mútuo conhecimento dos jornalismos espanhol e português. A jornalista deu a conhecer as duas faces da comunicação social em Espanha.

Por um lado, explica que a profissão de jornalista vive as suas “horas más bajas“, sendo considerada a pior profissão do país. De 2008 a 2013, o número de despedimentos de órgãos de comunicação social em Espanha foi de mais de 11 mil. Este número relaciona-se com o encerramento de 284 órgãos de comunicação social espanhóis. A situação é bem conhecida entre os futuros e os atuais jornalistas portugueses: menos meios, mais funções, menos dinheiro, mais instabilidade.

Ainda assim, a professora da Universidad Complutense acredita que há espaço para a esperança e que laboratórios como o Infoactualidad e o JPN podem ser o caminho. Falou também sobre iniciativas alternativas e bem sucedidas em Espanha, que estão na origem de novos empregos. Maria Luisa Sánchez deixou ainda um incentivo aos alunos presentes para criarem os seus próprios projetos.