Ermelinda Ribeiro tem oito filhos. Helena Lopes, três. Criaram – e ainda criam – os filhos em gerações diferentes e em contextos desiguais, até no número. “Nos dias de hoje, ter três filhos já é uma família numerosa”, diz Helena, por ver que o normal entre as amigas é ter um ou dois filhos. Mas, a comparar com a sua mãe, e assumindo que “os tempos mudaram”, já acha pouco. “A minha mãe teve dez filhos”, conta.

Ermelinda, de 73 anos, viveu os últimos tempos de ditadura a trabalhar no campo e a ser mãe. Foi uma “super-mãe”? “Acho que sim. Só que, claro, [os meus filhos] não foram muito bem estimados, porque o trabalho era muito e eles tinham pouca diferença de idades”. Em 12 anos, teve dez filhos. António, o marido, não podia trabalhar sozinho para sustentar a casa. Era tarefa impossível. Por isso, e habituada a um ambiente rural, lá ia Ermelinda para o campo ajudar. “Deixava-os em casa muitas vezes sozinhos e quem tomava conta deles era a minha filha mais nova, que até cozinhava”.

“Era triste” não poder responder às necessidades das crianças, mas “não havia possibilidades para lhes dar o que queriam. Não havia o que há agora, não havia dinheiro”. Mas a vontade e o sacrifício lá ajudavam. “Quando saíamos, trazíamos sempre um pastel para cada um. Para mim e para o pai não, mas, para eles, sim. Ah, e bananas. Também gostavam muito”.

As super-heroínas

Quando criou os filhos, a família de Ermelinda fez “muitos sacrifícios”. “Hoje compra-se tudo, mas na altura não. Para comer e dar pão aos nossos filhos, tínhamos que suar muito para o granjear”.

Os filhos de Helena, nascidos nos últimos vinte anos, já não sofreram com isso. No entanto, há que saber lidar com eles, inseridos em gerações diferentes. “Tenho filhos em faixas etárias muito diferentes: uma criança que ainda não foi para a primária, uma adolescente, e uma na casa dos vinte. É muito diferente lidar com cada um deles, quer pela idade, quer pelo contexto em que cada um se insere”.

Helena lamenta que, em Portugal, ter uma família numerosa, com três ou mais filhos, não concede privilégios ou ajudas, como acontece no país vizinho. Mas isso não é impedimento para achar “engraçado acompanhar as alterações” dos filhos. “Um está a pedir um mimo, outro está a pedir para sair e outro pede para viver fora de casa”, diz, sobre os desejos dos seus três filhos.

Primeiro domingo de maio ou 8 de dezembro?

“Primeiro, quando era Dia da Mãe, a 8 de dezembro, os meus irmãos passavam lá por casa e traziam-lhe biscoitos. Era uma prova de amizade dos filhos para com a mãe”, diz Ermelinda, habituada a festejar o Dia da Mãe em dezembro.

O início da comemoração

A data para a celebração das mães surgiu nos Estados Unidos da América, pela mão da ativista Ann Maria Reeves Jarvis. Esta mulher organizou, em 1865, os Mother’s Friendship Days, com diversas razões, como, por exemplo, reduzir a mortalidade de crianças em famílias de trabalhadores. A data ficou associada ao primeiro domingo de maio como forma de se prestigiar a memória da mãe da ativista e espalhou-se por mais de quarenta países.

Apesar da mudança de data de festejo, as pessoas ainda dão valor ao 8 de dezembro, sobretudo na Igreja, como diz o padre Rubens Marques. “Celebramos a Imaculada Conceição, Maria, que Jesus nos deu como mãe”, diz. Por isso, a celebração é especial e com “muita alegria e carinho” e nela “reza-se por todas as mães”.

Anne McGttigan vem dos Estados Unidos visitar o Porto. Entra no Bolhão e fica surpreendida com o que vê. Numa banca, Júlia Gaspar exibe os produtos com o pregão e a filha, Rosa Gonçalves veio visitá-la, como faz todos os dias. “Gostava mais do 8 de dezembro. Fui habituada assim desde pequena”, diz Rosa.

Noutra banca, vendem juntas mãe e filha. Maria Machado e Amélia Babo. “O dia 8 de dezembro é que era”, atira a mãe. Mas a filha faz questão de deixar claro que “é um dia como outro qualquer. Dia da Mãe é todos os dias. Mãe é para toda a vida. A melhor coisa que podemos ter”. Mas ainda se zangam? “Às vezes, mas passados cinco minutos já estamos a falar outra vez”, riem-se.

Um ramo de flores e muito carinho

Anne continua viagem. Não sabe por que é que se festeja o Dia da Mãe no primeiro domingo de maio, mas sabe como se faz. “Geralmente, se vivem na mesma cidade, visitam as mães, vão tomar o pequeno almoço com ela, compram um presente, oferecem flores como em todo o mundo”.

“Às vezes, um ramo de flores, outras vezes uma camisola” – as prendas que Ana Cardoso vai recebendo dos filhos. Graça Silva é empregada de balcão e já sabe quais são os produtos mais vendidos na data. “Pijamas, camisas de noite, robes, coisas úteis. As pessoas optam mais por produtos necessários”, conta.

Flores também fica sempre bem. “O Dia da Mãe é com flores. Nem que seja uma rosinha só para marcar o dia”, diz Rosa Silva, florista. Independentemente da data e dos presentes, celebrar o amor de mãe é sempre um gesto de ternura e amizade.