Neste domingo, o anfiteatro da Casa das Artes, no Porto, encheu-se e a fila no jardim, para a sessão de autógrafos de Miguel Esteves Cardoso, durou horas. O lançamento de “Amores e Saudades de um Português Arreliado” atraiu um largo número de pessoas.

O título da obra é ilativo: fala-se de amores e saudades; escreve-as um “português arreliado”. “Acho que todos os portugueses são arreliados, faz parte da reação portuguesa perante as coisas e a realidade. Nós arreliamo-nos com elas para provarmos que não somos passivos e que não somos simplesmente aceitantes do que acontece. Arrealiarmo-nos é uma forma de mostrarmos que somos quem somos”, refere o escritor de 58 anos.

Para Miguel Esteves Cardoso, vivemos num país sem soluções. O que nem é necessariamente mau: “Acho que Portugal não tem emenda há muito tempo e é escusado perder tempo à procura dela. Ainda agora vi, no Mercado Bom Sucesso, numa das bancas de vinho, dois dizeres: um dizia que o dinheiro não compra a felicidade, mas compra o vinho, que é quase a mesma coisa; a outra dizia que o vinho não é resposta para as perguntas importantes, mas ajuda a esquecê-las. É bom que Portugal não tenha emenda. Talvez o não ter emenda seja mesmo uma espécie de remendo”, admite.

“A passagem do tempo é a melhor coisa que existe”

Um dos temas proeminentes do livro é a passagem do tempo e o envelhecimento. Contrariando o pessimismo generalizado que o tema provoca nas pessoas, Miguel Esteves Cardoso exulta-o e deleita-se com o avançar dos ponteiros. “A passagem do tempo é a melhor coisa que existe. As pessoas lamentam-se disso, quando se tornam mais velhos ou quando morrem pessoas, mas também, se não passasse, nunca matávamos a sede e nunca chegávamos aonde quereríamos chegar. O passar do tempo é sinal de que estamos vivos, e isso é bom”.

Como “todos os portugueses”, o escritor assume não conviver bem com as saudades. Garante que deveríamos viver apenas o momento presente, mas ainda falta saber como: “Não sei, não faço ideia, mas gostaria de saber. Dá trabalho, porque uma pessoa, estando no momento, está sempre a pensar como há-de estar no momento e não consegue estar nele…”.