Desde 16 de maio que decorrem, em Angola, os primeiros censos desde há 44 anos. Até ao final do mês, acesso à habitação, à água canalizada e à eletricidade serão algumas das situações avaliadas. Num país de muito ricos e muito pobres, a operação tem com objetivo primário alcançar o “bem-estar e prosperidade para todos”, diz o presidente angolano José Eduardo dos Santos.

A recuperar de uma guerra de 27 anos, Angola tem vindo a crescer desde 2002 e assume-se agora como potência petrolífera em plena expansão. Estima-se que o país tenha, atualmente, cerca de 21 milhões de habitantes, mas a contagem já não é feita desde 1970, altura em que o país se encontrava ainda sob o domínio colonial português.

Nos últimos censos então realizados, Angola tinha 5,6 milhões de habitantes. Apesar da falta de dados recentes, e mesmo sendo o segundo maior produtor de petróleo africano, o país continua a ter 36% da sua população a viver abaixo do limiar da pobreza, segundo dados oficiais.

Oposição pede rigor ao Executivo

O sociólogo Joao Lokomo Nzatuzola disse, à Agence France-Presse (AFP), que, “com a recenseamento, o país quer mostrar que é capaz de se organizar e trabalhar para atingir objetivos reais para um desenvolvimento qualitativo”. Já o principal partido angolano da oposição, a UNITA, mostra-se preocupado com a forma como vão ser conduzidos os processos de recenseamento e pediu publicamente ao Executivo de José Eduardo dos Santos para “conduzir com transparência e honestidade, a fim de atingir os objetivos enunciados”.

Durante várias semanas decorreram já nos meios de comunicação angolanos – e com o apoio de igrejas e instituições locais – campanhas de sensibilização para a importância dos censos, que, no total, vão mobilizar cerca de 100 mil pessoas, mais de 80 mil especialmente preparadas para o trabalho no terreno. A operação, há muito esperada, tornou-se, assim, temporariamente, um dos maiores empregadores do país.

Kourtoum Nacro, representante do Fundo das Nações Unidas para a população em Angola, disse, na conferência de imprensa que assinalou o início dos censos, que “a participação da população é crucial para o sucesso”. A especialista da ONU explicou que “há muito a fazer para informar os habitantes, que não estão habituados a esta prática, e uma grande parte é analfabeta e não compreende o interesse da operação”.

Números para o desenvolvimento sustentado

Os resultados finais do censo só serão conhecidos 18 meses depois de o processo no terreno estar concluído, como explicou o diretor do Instituto Nacional de Estatística angolano, Camilo Ceita, citado pela agência Reuteurs. Ainda assim, Ceita promete a divulgação de alguns dados provisórios assim que possível (em três a quatro meses), com informação relativa à dimensão e distribuição da população por sexo e idades.

A operação envolverá, desde logo, algumas dificuldades evidentes, relacionadas com a grande dimensão do país e com as dificuldades de chegar a algumas províncias rurais, com áreas muito remotas, só acessíveis através de barco ou helicóptero. Ainda assim, o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, já veio publicamente dar conta da importância do censo, particularmente na luta contra a pobreza. “O caminho a percorrer ainda é longo até alcançarmos o bem-estar e prosperidade para todos. Precisamos também de saber quantos somos e onde estamos, como primeiro passo para organizarmos melhor a nossa sociedade”, afirmou o presidente, num discurso transmitido na televisão angolana.

Sob o slogan “Nós confiamos em Angola”, José Eduardo dos Santos, no poder há quase 35 anos, cumpre aquela que não foi uma prioridade do pós-guerra, mas uma das primeiras promessas feitas pelo Governo logo após o flagelo. Estima-se que a operação tenha um custo de 200 milhões de dólares, inteiramente assumido por Luanda, em oposição à atitude da maior parte dos países em vias de desenvolvimento, que pede a ajuda internacional, nestes casos.