São 16 os partidos que disputam, no próximo domingo, 25 de maio, os 21 lugares que o Parlamento Europeu tem disponíveis para os deputados portugueses. Desde 1986 a fazer parte da União Europeia e a eleger deputados desde 1987, Portugal tem registado valores de abstenção que cresceram num ápice.

O cenário é comum a toda a Europa, uma vez que “todos os países europeus têm uma taxa de abstenção relativamente elevada nas eleições europeias em relação às eleições nacionais, sejam elas legislativas ou regionais”, explica ao JPN António Costa Pinto, politólogo.

“As eleições europeias são eleições de segunda ordem, em que os eleitores não veem tanta importância e significado no seu dia-a-dia”, refere Patrício Costa. O investigador na área da Ciência Política acrescenta que, “normalmente, as sondagens têm alguma dificuldade em estimar a abstenção, porque são feitas via telefone”.

Portugal tem apresentado uma taxa de abstenção superior à média europeia e essa margem pode ser explicada por fatores de “ordem estrutural”.

Vai votar?

Os números da abstenção em Portugal têm ficado acima da média europeia. Das eleições de 1987 às eleições de 1999, o valor disparou. Em 2014 prevê-se um novo aumento. Apesar de os portugueses reconhecerem a importância do ato eleitoral, nem todos vão votar. Apontam diferentes razões para a decisão que tomam – desinteresse, distanciamento e descrédito político, por exemplo – e, por isso, alguns hesitam, quando questionados sobre os nomes dos candidatos ao Parlamento Europeu.

As causas dos números elevados e as soluções possíveis

Em 2014 espera-se uma abstenção maior. António Costa Pinto aponta, entre “vários fatores”, “um fator estatístico” para essa razão. “A emigração bastante elevada nos últimos três anos irá, seguramente, causar um aumento na abstenção”, diz. “Neste caso concreto, são as primeiras eleições após três anos de programa de austeridade, o que quer dizer que os resultados da abstenção começam a ser um fator estrutural na vida política portuguesa”, continua o politólogo.

“Cada vez há menos pessoas com uma identidade partidária forte e isso tem consequências na participação eleitoral. E este afastamento também se deve ao facto de serem eleições diferentes das outras, por dizerem respeito a um órgão que fica fora do país. Tem consequências na mobilização dos eleitores”, reflete Patrício Costa.

O investigador considera que o cenário nacional também está na calha quando se atiram as culpas ao que motiva tanta abstinência. Por isso, entende que há uma clara influência de um modelo nacional na eleição. “A discussão dos temas europeus é pouca, discutem-se mais temas nacionais nesta campanha, quando não é isso que trata a eleição”.

Dar resposta ao problema de voto tem, na maneira de ver de António Costa Pinto, duas soluções. “Ou transformar em voto obrigatório, como algumas democracias já fizeram. Assim, o problema fica resolvido. Ou, então, só é possível pela mobilização dos partidos políticos que se encontram em plena crise”, partilha o politólogo, que vê no “fator educação” um dos motivos para a abstenção eleitoral.

Para 2014, a taxa elevada parece certa. Patrício Costa prevê “uma taxa de abstenção um bocadinho mais alta do que em 2009”, a rondar os 60%.