O Mundial de 1982, realizado na Espanha, foi marcado pela comunhão entre a mudança e a tradição. Por um lado, o número de equipas cresceu – de 16 para 24 – mas, por outro, a 12.ª edição do maior evento de futebol do mundo assinalou o retorno de uma supercampeã, afastada dos títulos desde 1938: a Itália.

Não foi logo na primeira fase que a formação azzurra mostrou o seu potencial. Na verdade, o paradigma inicial foi completamente oposto. A Itália não venceu um único jogo na fase inicial da competição – empatou com a Polónia, o Peru e os Camarões – e só avançou à etapa seguinte por ter feito um golo a mais que os africanos. A situação era tão crítica que o técnico Enzo Bearzot impediu os seus jogadores de darem entrevistas à imprensa e de lerem jornais italianos, extremamente inflamados pelas más exibições da equipa.

No mesmo caminho dos bicampeões, a anfitriã Espanha dececionou na estreia, ao empatar com as Honduras (1-1), estreante em Campeonatos do Mundo. Os “Fúria” tiveram de se contentar com o segundo lugar do grupo, atrás da Irlanda do Norte, e foram eliminados na fase seguinte. A Argentina, defensora do título, começou igualmente mal – com a derrota para a Bélgica – e também ficou com o segundo posto, mas conseguiu chegar às meias-finais.

Já os brasileiros, ao contrário dos outros “gigantes”, começaram muito bem e confirmaram a premissa inicial de que eram os grandes favoritos ao título. Com um aproveitamento de 100%, a equipa “canarinha” derrotou a União Soviética num jogo difícil, e protagonizou duas goleadas, uma à Escócia e outra à Nova Zelândia, logo na primeira fase.

Novo formato

O Mundial de 1982 contou com um regulamento único. Como eram seis grupos com quatro equipas cada, e apenas os dois primeiros se classificavam, 12 seleções formaram quatro grupos de três equipas na segunda fase, de onde apenas os campeões de cada grupo continuariam na competição e disputariam a semifinal.

Em virtude dos resultados pouco satisfatórios, os azzurra e os albicelestes acabaram por calhar, na segunda fase, no mesmo grupo da seleção brasileira. Desta forma, três dos grandes favoritos ao título disputavam uma única vaga para decidir quem iria às meias-finais.

A Argentina foi a primeira a ser eliminada, ao ser derrotada pela Itália (2-1) e, mais tarde, pelo Brasil (3-1), que acabou com as esperanças dos até então campeões de conquistarem o bicampeonato, e assinalou a supremacia inegável dos “canarinhos” no campeonato. Contudo, no confronto entre o Brasil e a Itália, tal aproveitamento de nada ajudou. O empate bastava para a seleção brasileira avançar para a fase seguinte e o golo de empate (2-2), pelos pés de Falcão, no minuto 68, foi um passo grande para a qualificação dos tricampeões mundiais.

No entanto, Paolo Rossi conseguiu, no minuto 74, marcar o seu terceiro golo na partida e fazer a sua seleção avançar para as meias-finais. Este foi o jogo que determinou o destino da Itália neste ano: ser campeã mundial.

Azurra imparável

Depois da vitória frente ao Brasil, a imagem que a seleção italiana havia criado no início do Campeonato do Mundo mudou por completo. A vitória em Vigo, frente a Polónia (2-0), com dois golos de Paolo Rossi, só acentuou ainda mais o poder e o favoritismo da máquina italiana.

Na outra meia-final, a Alemanha Ocidenal foi protagonista de uma das reações mais espetaculares de todos os tempos, contra a França de Platini. Depois do 1-1 nos 90 minutos de jogo, os bleus chegaram ao prolongamento a balançar duas vezes as redes da baliza adversária, praticamente assegurando a vaga na final. Mas bastaram sete minutos para os alemães, liderados por Rummenigge, conseguirem empatar o jogo e levarem a disputa para as grandes penalidades, nas quais triunfaram (5-4) e obtiveram a qualificação para o último jogo da disputa da taça.

Porém, na final, assistiu-se a mais do mesmo. Um domínio absoluto da seleção azurra no Santiago Bernabéu, num jogo que deveria ser um clássico de duas seleções rivais. Embalada pelas vitórias frente ao Brasil e à Argentina, os italianos passearam em campo e fizeram três golos na segunda parte, sendo um de Rossi, a grande personalidade do Mundial e artilheiro, com seis golos.

A Alemanha ainda tentou a reação e descontou no final, mas já era tarde. A Itália consagrava-se, deste modo, tricampeã mundial, igualando o número de títulos da seleção brasileira, depois de 44 anos de jejum.