O que é que ainda falta fazer em Bruxelas?

Falta muita coisa, como é evidente. Neste momento, o principal a fazer é uma agenda para o crescimento que possa aplicar-se a toda a Europa. Uma agenda que passa essencialmente pelo mercado único digital, pelo mercado único clássico, pela economia do mar, pelo Tratado com os Estados Unidos, pela própria integração dos céticos… Portanto, que seja capaz de criar um surto de crescimento muito forte, e ao mesmo tempo a criação de postos de trabalho em toda a Europa, no fundo é a necessidade principal, e a prioridade principal.

Depois, é muito importante, também, trabalhar noutras dimensões: completar a união económica e monetária para estabilizar a zona euro e, ao mesmo tempo, também é muito importante ter uma política para a emigração e imigração, uma vez que é um dos problemas que mais aflige a Europa, não aflige tanto Portugal, mas aflige outros países.

Um dos principais afetados pelo desemprego na Europa são os jovens, em particular os jovens licenciados. Quais são as ideias da candidatura para essa questão?

Neste momento, temos um programa europeu muito importante que, aliás, já está a começar a ser aplicado em Portugal, que é a chamada Garantia Jovem, que dá uma resposta fortíssima a essa situação de desocupação e desemprego dos jovens. Mas há uma questão que eu queria deixar muito clara: o problema do desemprego jovem é um problema que se põe em termos gerais, para todos os desempregados, não apenas para os jovens. Por isso, só com a tal agenda para o crescimento que estimule, por um lado, níveis de crescimento elevados e, por outro lado, a criação de postos de trabalho. Só com isso é que nós combatemos o desemprego jovem. Não pode haver um programa em que nós empregamos os jovens e deixamos os outros desempregados.

“É, na verdade, o aumento do crescimento de toda a União Europeia que pode originar soluções para os próprios jovens”

No fundo, eu diria que isto é um problema transversal às soluções, e não apenas uma única geração. É evidente que um programa como o Garantia Jovem pode realmente resolver a situação a muitos milhões de jovens e, portanto, é um programa muito importante para nós também.

Em que medida é que a criação de novas empresas pode resolver o problema de falta de produção e dos jovens?

Uma das grandes agendas que está na Europa neste momento em cima da mesa, e do Partido Popular Europeu, é a agenda da reindustrialização. Quando falamos em estimular o mercado único digital, em estimular o mercado único de bens e serviços, que já está largamente implementado, mas precisa de ser concluído e fechado. Quando falamos na integração dos mercados energéticos, quando falamos na liberalização do comércio com os Estados Unidos, nós basicamente estamos a apontar não só para uma dinamização da economia em geral, mas especialmente para a reindustrialização, isto é, para que a Europa volte a apostar no setor secundário e no setor primário. Prova-se haver uma espécie de financeirização da economia, uma espécie de terciarização da economia nos últimos vinte anos, e neste momento acho que já toda a gente percebeu que é preciso regressar ao paradigma industrial, e é isso que nos interessa fazer.

Quais são as ideias da Aliança Portugal quanto ao Ensino Superior, não só aqui como na Europa?

Neste momento, já temos instrumentos europeus de harmonização interessantes, a dois níveis: a nível de, por um lado, o sistema de Bolonha, e também o programa Erasmus e o Erasmus+, dois grandes intercâmbios que permitem uma certa uniformização, homogeneização e harmonização dos currículos nos países. Há um ponto no qual se tem trabalhado muito, mas em que é preciso dar um salto enorme: o reconhecimento de qualificações.

“O sistema de reconhecimento das qualificações tem de ser um sistema muito mais eficaz, e muito mais ágil”

Nós temos um programa para isso no manifesto da Aliança Portugal. A questão que se põe hoje não é tanto a questão de ter um ensino superior de qualidade europeia, com conteúdos europeus que possa realmente ser usado na Europa. É que é extremamente díficil, nalguns casos, fazer o reconhecimento das competências que são aprendidas num país junto de outros, ou até a nível europeu.

A nível desse reconhecimento, nós temos ainda de trabalhar muito,e é extremamente difícil, porque obviamente a existência de 24 línguas é um obstáculo que não podemos ignorar. Eu diria que o principal trabalho neste momento não é tanto a ideia de ter cursos uns iguais aos outros, eu penso sinceramente que isso seria redutor e seria mau, mas é muito importante que a educação continue a ser uma competência essencialmente nacional.

Agora, o sistema de reconhecimento das qualificações tem de ser um sistema muito mais eficaz, e muito mais ágil, de modo a que os estudantes, uma vez terminados os seus estudos, ou quando queiram transferir-se de um país para o outro como estudantes, não tenham dificuldade nas equivalências entre os conhecimentos que adquiriram num país e aqueles que vão usar noutro.

O que é que a Aliança Portugal tem que as outras candidaturas não têm?

A Aliança Portugal tem essencialmente duas coisas a seu favor: em primeiro lugar, tem um programa para a Europa. Enquanto vemos o Partido Socialista, por exemplo, a apresentar um programa do Governo, que está reduzido a isso, nós temos um programa para a Europa e também a agenda para o crescimento, da qual já falei. Para além disso, nós temos uma outra diferença muito importante, que é a questão da credibilidade.

Os partidos da Aliança Portugal são os partidos que foram obrigados a salvar Portugal da bancarrota. O Partido Socialista deixou Portugal na bancarrota e portanto nós hoje temos credibilidade na Europa e estamos em condições de exigir mais da Europa, porque nós não estivemos numa lógica de bota-abaixo, pura e simplesmente oposição por oposição. Nós estivemos aqui em Portugal construtivamente a trabalhar para salvar o país, cumprimos aquelas que eram as exigências europeias, e portanto nós temos um ativo de capital junto da Europa que nos pode vir a dar uma maior facilidade de defender os interesses de Portugal na Europa, coisa que não têm os nossos adversários [do Partido Socialista].

A campanha em Portugal é mais um prelúdio para as eleições do próximo ano, e não tanto um debate para a Europa?

Evidentemente que hoje há uma grande contaminação, no sentido até positivo do tema, há uma grande interação entre assuntos nacionais e assuntos europeus e, nessa medida, eu não consideraria isso uma coisa estranha ou fora de hipótese, fora do natural.

“Os eleitores aqui estarão para avaliar quem tem uma proposta para a Europa e quem anda a fazer uma campanha política nacional fora de tempo”

Agora, eu penso que aqui é evidente que o Partido Socialista reduziu toda a sua campanha a uma campanha nacional, apresentou um programa do Governo no sábado, totalmente fora de contexto, porque estamos em eleições europeias, portanto esse é um debate que foi extremamente reduzido e diminuído por esse contributo do Partido Socialista.