O movimento de 28 de maio de 1926 ficou conhecido por ser um levantamento militar que começou no norte do país e ao qual rapidamente a maioria das unidades do país aderiu. O golpe, que começou em Braga, retirou o poder aos partidos republicanos e foi o primeiro passo para o regime do Estado Novo, que depois apelidou este acontecimento de “Revolução Nacional”.

Os anos anteriores a esta revolução foram de instabilidade, num país que esteve continuamente à beira da guerra civil. O 28 de maio abriu caminho a uma ditadura militar, que deu lugar a uma ditadura de 48 anos. Só terminaria a 25 de abril de 1974.

Antecedentes

Desde cedo que a Primeira República Portuguesa (implantada a 5 de outubro de 2010) deu sinais de fragilidade. Num período de 16 anos, que terminou a 28 de maio, a República Portuguesa teve sete parlamentos, oito presidentes da República, 39 Governos, 40 chefes de Governo, uma junta constitucional e uma junta revolucionária.

1. A Noite Sangrenta

Foi em Lisboa, a 19 de outubro de 1921, que uma milícia de marinheiros e arsenalistas organizou uma revolta militar, na sequência da qual foram assassinados, entre outros, António Granjo, presidente do Ministério, Machado Santos e Carlos da Maia (personalidades históricas da Implantação da República Portuguesa). A revolta decorreu no seguimento da demissão do 28.º Governo Republicano, encabeçado por Liberato Pinto.

Foi um período de instabilidade constante, repleto de agitação social e de ameaças de golpe. Exemplos práticos do ambiente que se vivia são a Noite Sangrenta (ver caixa 1), a 19 de outubro de 1921, e a Revolta de 18 de abril de 1925 (ver caixa 2), prenúncios da revolução de 1926.

No início dos anos 20 do século XX, depois da I Guerra Mundial, a instabilidade aumentou: além dos graves problemas financeiros (que se agravaram com a participação de Portugal na guerra), os Governos caíam constantemente (foram 23, entre 1920 e 1926), a agitação social cresceu também, com ameaças de atentados e forte atividade anarco-sindicalista. A instabilidade política quase chegou a uma situação de guerra civil (com confrontos entre diferentes unidades militares).

O clima de tensão e rebelião constante que se vivia pouco antes do 28 de maio antecipava o fim próximo do regime republicano.

O movimento de 28 de maio

No meio de toda a instabilidade política da altura, muitos eram os rumores de golpes que corriam. O general Manuel Gomes da Costa foi sempre o principal apontado para dirigir uma revolução, o que acabou por acontecer.

Estava marcado para o dia 28 de maio um Congresso Mariano em Braga, cidade conhecida pela ligação à religião e uma das mais populosas do país. O evento reunia na cidade as principais figuras do conservadorismo católico, que estavam descontentes com as medidas anticlericais dos Republicanos, e entre as quais se destacava Francisco Cunha Leal, na altura líder da União Liberal Republicana.

2. Revolta de 18 de abril de 1925

Revolta militar contra as instituições da Primeira República. Organizada pelo capitão-de-fragata Filomeno da Câmara, pelo general João José Sinel de Cordes, pelo coronel Raul Augusto Esteves e pelo capitão Jaime Baptista. Foi a primeira vez, desde 1870, que uma revolta militar foi comandada por oficiais generais no ativo. Estiveram envolvidos 61 oficiais. A revolta foi considerada o primeiro ensaio geral do que foi o 28 de maio, um ano depois.

Às seis da manhã do dia 28 eclode a revolução, pelas mãos do general Gomes da Costa, que, juntamente com os militares, logo ganha o apoio dos civis da região do Minho. O movimento rapidamente se espalhou para outras unidades militares do país (ver caixa 3).

No mesmo dia, em Lisboa, formou-se uma Junta de Salvação Pública, chefiada pelo almirante José Mendes Cabeçadas, que entregou um manifesto ao então Presidente da República, Bernardino Machado.

A 29 de maio, após a guarnição de Lisboa aderir em massa ao movimento e do General Óscar Carmona assumir o comando da 4.ª divisão do Exército, em Elvas, o Governo de António Maria da Silva apresenta a demissão a Bernardino Machado. Após a demissão do Governo, Mendes Cabeçadas aceitou o convite de Bernardino Machado para formar um Executivo, convite que fez com que Gomes da Costa ordenasse a todas as unidades militares envolvidas no golpe que se retirassem.

A 3 de junho, Mendes Cabeçadas distribui funções no Governo e entrega a Gomes da Costa as pastas da Guerra, Marinha e Colónias. Ezequiel Pereira de Campos ficou com a pasta da Agricultura, António de Oliveira Salazar ficou com as Finanças, Joaquim Mendes dos Remédios com a Instrução Pública, e Manuel Rodrigues Júnior com a Justiça. Os três últimos ministros, por serem todos professores da Universidade de Coimbra, ficaram conhecidos por “Tuna de Coimbra”.

3. Unidades militares a aderir ao golpe

1.ª divisão : Lisboa
2.ª divisão : Viseu
3.ª divisão : Porto
4.ª divisão : Évora
5.ª divisão : Coimbra
6.ª divisão : Vila Real
7.ª divisão : Tomar
8.ª divisão : Braga

No dia seguinte, após um encontro com Gomes da Costa na Amadora, para clarificar o propósito do novo Governo, Mendes dos Remédios e Manuel Rodrigues voltam a Lisboa para tomar posse, enquanto que Salazar regressa a Coimbra. O movimento termina a 6 de junho de 1926, na Avenida da Liberdade (Lisboa,) onde, após tomar posse, Gomes da Costa comanda um desfile militar de 15 mil homens, para celebrar a vitória.

Começa, então, a ditadura militar, que suspende a Constituição de 1911, dissolve o Parlamento e estabelece a censura. Em 1928, torna-se numa ditadura nacional. Óscar Carmona é eleito, através de sufrágio universal, Presidente da República. António de Oliveira Salazar é novamente convidado para a pasta das Finanças, para equilibrar as finanças públicas do país.

Em 1932, Salazar é nomeado presidente do Conselho de Ministros e em 1933 é referendada uma nova Constituição, documento fundador do Estado Novo, regime que acabou por se manter durante 38 anos, até existir novo pronunciamento militar, a 25 de abril de 1974.