O ritual dos recitais de poesia à penúltima ou última quinta-feira do mês teve início em 2001. Atualmente, o evento decorre no Grande Auditório do Teatro Municipal Campo Alegre e conta, todos os meses, com centenas de espectadores.

“Tratava-se de divulgar a poesia portuguesa de uma maneira não chata, não maçuda, não académica, mas sim lúdica e dessacralizada, fazendo coexistir nomes consagrados com novíssimas vozes da poesia portuguesa. Achámos, depois, que seria lógico cruzar com a poesia outras formas de arte, como a música e as artes plásticas”, conta ao JPN João Gesta, programador cultural do evento desde janeiro de 2002, relembrando o propósito das Quintas de Leitura.

Gesta diz que “foi um processo lento de fidelização de público”. As pessoas iam, gostavam e começaram a regressar, Quinta de Leitura após Quinta de Leitura. Agora, o programador orgulha-se de poder dizer que “já passaram [pelo evento] muito mais de mil artistas de diversas áreas. Imaginamos ter lido cerca de dez mil poemas e recebemos mais de 35 mil espectadores, o que é algo ímpar na Europa. Não existe o hábito de assistir a recitais de poesia”. A seu ver, o segredo das Quintas de Leitura tem sido o fator surpresa, espelhado na ousadia dos espetáculos.

Poesia ao som de violino

Para maior inspiração na noite comemorativa das Quintas de Leitura, que decorre nesta quinta-feira, a partir das 22h, no Teatro do Campo Algere, entre as leituras dos três atores e também “dizedores de poesia” – Teresa Coutinho, Paulo Campos dos Reis e Pedro Lamares -, Ianina Khmelik fará ecoar o som do seu violino no Grande Auditório.

“A seguir ao 13 vem o 14”

Na sessão do 13.º aniversário estarão presentes Ana Drago, Maria do Rosário Pedreira, Mário Zambujal, Adolfo Luxúria Canibal e Paulo Cunha e Silva, para uma conversa moderada por Carlos Vaz Marques. Em cima da mesma estarão os tópicos poesia, como dificilmente poderia deixar de ser, e o estado atual da cultura em Portugal.

Segundo João Gesta, “a poesia, num país deprimido, em crise, é verdadeiramente a linguagem da verdade, contrária à linguagem dos políticos”. “A poesia é uma arma carregada de futuro”, que “as pessoas devem viver, sobretudo, viradas para o futuro”, acrescenta o programador, em jeito de explicação para o mote desta noite (ver caixa).

Imagem de qualidade garantida

O evento contará ainda com um solo da bailarina Mafalde Deville, baseado na protagonista do livro “O lago avesso”, de Joana Bértholo, e com a estreia da fadista Raquel Tavares, acompanhada pelo violão de Edu Miranda. João Gesta lembra ainda que, nesta edição, a imagem será assinada por “um dos grandes gráficos do país”, Alex Gozblau.

Pedro Lamares já participou em cerca de 60 Quintas de Leituras e afirma que é sempre um orgulho voltar. “Faz parte do meu trabalho e é uma coisa que gosto de fazer. Já tenho uma grande afinidade com as Quintas”, refere. Participou pela primeira vez em janeiro de 2003 e, desde aí, tem participado em quase todas as sessões. “Para logo à noite espero um espetáculo bem engraçado”, confessa ao JPN o poeta.

Neste dia especial, Pedro Lamares vai ler, pela primeira vez em público, uma versão portuguesa do texto do canadiano Leonard Cohen, “How to speak poetry”. “É um texto muito importante para mim; é uma espécie de manifesto e uma inspiração para o meu trabalho”.

A verdade é que o 13 pode ser tido como um número de azar, mas nem João Gesta nem Pedro Lamares estão preocupados com superstições. “A seguir ao 13 vem o 14”, diz o programador, que afirma que, enquanto as pessoas quiserem, haverá aniversários das Quintas de Leitura para festejar. O ator, por sua vez, diz que até costuma brincar com a situação. “Vai ser um espetáculo muito curioso”.