O Rivoli Teatro Municipal foi o palco escolhido pela direção do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) 2014 para a abertura do evento. Antes de as portas abrirem, a performance de um grupo da Escola Superior Artística do Porto (ESAP) provocou o público – ainda no foyer do teatro – com apitos agudos, encontrões e circulação desenfreada. “Tentam Calar-nos… Agora somos nós que pedimos silêncio”, dizia o bilhete, entregue em mãos a quem se cruzava com os alunos que davam corpo ao ato performativo “O Silêncio Matéria Teatral” e preenchiam os últimos minutos, antes da entrada na sala.

Na plateia viam-se muitos lugares vazios quando Jorge Ribeiro – novo presidente do festival – fazia uma pequena introdução à edição que “despertou do coma induzido há poucas semanas”. Para o presidente, a programação está longe do que queriam e achavam que uma 37.ª edição mereceria. “No entanto, a opção que nos restava era abdicar de o fazer. Nós escolhemos ficar e agora cabe ao nosso público julgar se foi a decisão certa”, acrescentou Jorge Ribeiro.

A mensagem do festival “Yo, peregrino del FITEI”, que ganhou vida pela voz do investigador teatral Mario A. Rojas, foi motivo de aplausos e bocejos. Eram já alguns os ombros descaídos e rostos cansados quando depois de um frenético “Viva o FITEI. Viva o Teatro” as cortinas se abriram.

“El Sueño de la Razon”

A peça da noite foi trazida até ao Porto pela companhia espanhola “Cía.Ferroviaria”, para mostrar ao público as últimas semanas do pintor Francisco Goya, em Madrid, em 1823. A obsessão, excentricidade e surdez do artista arrastam a sua amante Leocádia para uma maratona exasutiva e frustrante de procura pela “cura”.

As pinturas projetadas e animadas servem de cenário a 90 minutos de caça aos fantasmas de Goya: a pressão absolutista e cruel de Fernando VII sobre os iluministas e liberais.
A jornada de Leocádia para combater a alucinada ousadia do amante é acompanhada pelo seu médico e pelo padre, amigo de Goya e servo do rei.

Houve quem saísse a meio da peça, mas entre os resistentes ouviram-se frenéticos aplausos no final do espetáculo, que marcou o início do festival de teatro na Invicta.