As cryptomoedas surgem como forma de criar um sistema complementar às atuais opções de pagamento. O objetivo principal é desenvolver um método de circulação da moeda virtual que funcione tal como um cartão Visa ou o PayPal, mas com custos muito reduzidos ou mesmo nulos no que diz respeito a taxas de utilização.

O ramo nacional das cryptomoedas, que já circulam em vários países do mundo – como Espanha, por exemplo – começou a ser desenvolvido há pouco mais de dois meses por dois programadores portugueses que preferem manter a sua identidade “não exposta”, entre outras razões, por não querem ser considerados “os proprietários do cryptoescudo”.

Apolo e ALCosta, como se identificam, são casados e, juntos, quiseram trazer um sistema indiretamente descendente do bitcoin para Portugal. “Assistimos à criação da Auroracoin [cryptomoeda da Islândia] que foi a primeira cryptomoeda com objetivo nacional e resolvemos que fazia sentido criar um projeto de cariz nacional, que ao mesmo temo divulgasse as cryptomoedas e que, por outro lado, tivesse objetivos eminentemente direcionados para o país”.

Na página oficial do cryptoescudo já está disponível o dowload da carteira e cada português pode também fazer o pedido dos seus cryptoescudos. Apolo diz que até agora o site registou cerca de mil dowloads da carteira, mas os pedidos dos cryptoescudos ainda não chegaram aos 200. Atualmente “o cryptoescudo vale tipo um décimo de milésimo de euro, ninguém leva isso muito a sério como interesse financeiro. É mais simbólico que outra coisa”. Apolo explica que o projeto ainda está numa fase muito inicial, pouco divulgado e, por isso, não está preocupado com os baixos números da adesão.

Futuras ações de marketing

Apolo conta que já existem algumas ideias para a divulgação do cryptoescudo. Um dos planos é criar uma pequena “banca” nos centros comerciais onde as pessoas possam pedir a carteira e as suas cryptomoedas. Outra ideia é ir para a praia, com um computador portátil e ligação gratuita à internet e começar a distribuir cryptoescudos pelas pessoas que estão em volta. “Procuramos formas de chegar instantaneamente a centenas de pessoas”, diz o programador.

Antes de apostarem no marketing da ideia e de avançarem com propostas a marcas e lojas, os dois programadores querem ainda criar duas funcionalidades importantes para a utilização do cryptoescudo: uma carteira disponível para o formato android e um sistema acelerador/facilitador de transações que permita, por exemplo, a instalação do software nos computadores das lojas ou empresas, para que estas possam começar a aceitar, sem dificuldades, o pagamento em cryptoescudo da mesma forma que aceitam encomendas pagas por cartão de crédito ou Paypal.

“Queremos ajudar a pagar o famoso monstro que é a dívida pública nacional”

Apolo afirma que atribui ao cryptoescudo a responsabilidade política de ajudar a pagar a dívida portuguesa. “Isso às vezes é encarado como uma excentricidade, mas também há muita gente que achou que o bitcoin jamais poderia valer mil dólares e aconteceu”. Especialistas na área já vieram dizer que no prazo de 10 anos é de esperar que um bitcoin valha entre um milhão a 10 milhões de dólares. Apolo, apesar das previsões, é mais cauteloso e dilata a estimativa para os 25 anos.

A saúde financeira do país não é o único objetivo do cryptoescudo. Numa vertente mais social, o programador fala na possibilidade de criar um sistema económico complementar ao do euro em Portugal “e não necessariamente só em Portugal”. Alguns apoiantes do sistema acreditam que seria possível fazer do cryptoescudo uma moeda da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Premissa essencial para a valorização do cryptoescudo é a adesão em massa dos portugueses. Até agora, a fase inicial em que o projeto se encontra ainda não permite avaliar a evolução da moeda e, muito menos, a variação do seu valor. “A valorização acontece pela utilização e pelo interesse em utilizar a cryptomoeda em transações”, explica Apolo. Questionada sobre a convicção de que o cryptoescudo passe a ser utilizado pela maioria dos portugueses, Apolo mostra-se confiante: “Ah sim! Nós ainda mal começamos”.

O programador faz questão de salientar que o cryptoescudo é ainda muito recente e embrionário para o que se pretende atingir e que os principais objetivos só serão alcançados mediante adesão das pessoas. “Nós somos só os lançadores da ideia, agora outras pessoas podem começar a interessar-se, envolvendo-se ativamente e dando a cara no meio que entendam”, diz Apolo, num claro incentivo à participação de todos os que queiram colaborar neste projeto nacional.